Notícias | Após mais de um ano de pandemia, alunos da rede estadual ainda enfrentam dificuldades no ensino remoto

Após mais de um ano de pandemia, alunos da rede estadual ainda enfrentam dificuldades no ensino remoto

Alguns alunos e professores não conseguiam obter conexão com a internet para que fosse possível baixarem o Centro de Mídias.

18/06/2021

Desde março de 2020, a internet tem sido essencial para a educação após as escolas terem sido fechadas por conta do coronavírus. Com a incerteza de quando tudo voltaria ao normal, em abril do ano passado, a Secretaria do Estadual de Educação de São Paulo (SEDUC) lançou um aplicativo, o Centro de Mídias (CMSP), para que os alunos pudessem ter acesso a videoaulas e as atividades escolares. A partir de maio, uma atualização do aplicativo possibilitou o acesso sem ter conexão com a internet. Porém, de acordo com alunos e professores da rede estadual, o aplicativo não facilitou de modo com que todos pudessem acessar.

Alguns alunos e professores não conseguiam obter conexão com a internet para que fosse possível baixarem o Centro de Mídias. Além disso, havia complicações para contatar as escolas para realizar o cadastro. A partir disso, as aulas começaram a ser realizadas por diversas plataformas como o WhatsApp, Meet, Zoom, entre outros. Ou seja, o acesso à internet ainda permaneceu necessário, demandando conexão e equipamentos eletrônicos muitas vezes escassos ou inexistentes nas famílias de baixa renda. O SINTPq está atento a esse cenário e busca ajudar promovendo uma campanha de arrecadação de tablets para estudantes carentes. Mais informações estão disponíveis no link.

Conforme dados divulgados em reportagem da Agência Pública, a secretaria informou a distribuição de 750 mil chips. Desse total, 500 mil foram destinados a alunos a partir do 8º ano do ensino fundamental ao ensino médio da rede estadual e 250 mil para os profissionais das escolas. A princípio, os chips seriam fornecidos entre novembro e dezembro de 2020, mas só foram distribuídos em janeiro deste ano. A quantidade de chips fornecidos daria suporte para 15% de 3.325.149 alunos da rede estadual, com um gasto de R$ 75 milhões por parte do governo paulista para manter o benefício por apenas um ano, segundo informações da SEDUC à Agência Pública.

Em entrevista cedida à reportagem mencionada acima, Jan Alves, professora da rede estadual há 14 anos e atualmente lecionando em Guarulhos/SP, relata que o processo tem sido demorado e a distribuição dos chips não chega para todos. “É um processo longo, tem que fazer um cadastro, esperar um prazo, os chips chegam por lotes e não são distribuídos para todos, né? Temos alunos trabalhadores, alunos do EJA [educação de jovens e adultos], que não foram contemplados com esse chip. Então, os que têm mais dificuldade de permanecer nas aulas são esses alunos adultos que trabalham e que não têm acesso à internet em casa ainda. Às vezes têm acesso à internet básica, que não permite abrir arquivos mais pesados”, afirma.

Os alunos precisam se cadastrar no CadÚnico, programa do governo federal para famílias de baixa renda que dá acesso a benefícios como o Bolsa Família. Em outras palavras, por mais que o aluno esteja numa situação de pobreza ou pobreza extrema, se os responsáveis ou o estudante não estiverem cadastrados no programa, as chances de receber o chip diminuem. Além disso, de acordo com a Agência Pública, cerca de 641.496 alunos dos anos iniciais (do 1° ao 5° ano escolar), além do 6° e 7° ano dos anos finais, não têm direito à medida que visa garantir a conexão para os estudos.

Além da conexão com a internet, outro problema que tem afetado os alunos é a falta de equipamento. Segundo a estudante Estefany Karolainie, de 12 anos, não ter um equipamento próprio atrasa as entregas de atividades. “Hoje eu fiz a lição de artes, tenho outras pra fazer, mas cada dia eu pego uma. Porque não sou só eu, entende? Quando minha mãe precisa, ela sai e leva o celular. Fico mais tranquila porque eles deram o chip, o que complica é o meu celular.”, diz a estudante.

A professora Jan Alves auxiliou a estudante para que ela pudesse realizar as atividades. “Realmente, no celular dela não baixa nada, nada. Eu já peguei, pedi pra ela ir à escola. Ela sempre me manda mensagem porque quer fazer as atividades do Classroom [Google Sala de Aula], mas não tem como porque o celular dela não aguenta e o da mãe não tem mais memória pra baixar”, confirma Jan.