Especial dia das mães: Quando o cuidado também é uma forma de resistência
Porque defender a maternidade também é defender a ciência, o trabalho digno e a justiça social
Entre reuniões, negociações e decisões estratégicas, elas também cuidam, educam e acolhem. No campo da ciência e tecnologia, a maternidade não acontece em horários flexíveis nem com estruturas preparadas para receber a complexidade da vida. Ainda assim, muitas mulheres constroem suas trajetórias profissionais e políticas sem abrir mão da presença na criação de seus filhos. Neste especial do Dia das Mães, o SINTPq dá voz a essas experiências que cruzam laboratórios, escritórios, casas e assembleias — mostrando que ser mãe, profissional e militante é um ato diário de coragem e transformação.
Sheyla e Priscila: entre o cuidado e a luta coletiva
As histórias de Sheyla e Priscila, diretoras do SINTPq, revelam como a maternidade pode se entrelaçar de forma desafiadora com a carreira na área de ciência e tecnologia. Mais do que conciliar agendas, elas precisaram enfrentar preconceitos, sobrecarga e a solidão que ainda marca muitas mulheres nesse meio — especialmente quando se tornam mães.
Com dois filhos e uma longa trajetória profissional, Sheyla relembra os anos em que precisou se dividir entre trabalho, estudos e maternidade. “Na faculdade, eu trabalhava durante o dia e estudava à noite. Minha filha tinha quase três anos e eu praticamente não a via durante a semana. Isso me causava uma culpa imensa”, compartilha. O sentimento de ausência se somava a outro dilema: a desigualdade de oportunidades. Sem acesso a redes de apoio ou tempo para cursos extras, viu seus esforços serem apropriados por colegas, principalmente homens. A maternidade, segundo ela, passou a ser vista como um problema pelas empresas, e não como a potência que é.
Para Priscila Leal, a maternidade também foi vivida entre o cansaço, a entrega e a resistência. Diretora sindical e trabalhadora, ela destaca como a presença de uma creche no próprio campus onde trabalha foi determinante para manter o vínculo com a filha. “Eu ouvia a Janaína chorar da minha sala. Isso me doía, mas ao mesmo tempo me dava forças. Eu podia amamentar durante o expediente, e isso foi muito importante para mim como mãe e para ela como bebê”, relata. Ainda assim, o retorno da licença maternidade foi marcado por julgamentos: “Um colega me disse que eu tinha tirado férias prolongadas. Ele não fazia ideia do que é o puerpério, das noites sem dormir, da exaustão.”
Tanto Sheyla quanto Priscila destacam que o trabalho intelectual, típico do setor de ciência e tecnologia, exige concentração e energia que nem sempre são compatíveis com a rotina da maternidade. Ainda assim, ambas seguiram firmes — com culpa, mas também com convicção.
Foi a partir dessas vivências que o movimento sindical se apresentou como um espaço de transformação. Para Sheyla, que enfrentou tentativas de silenciamento ao voltar da segunda licença maternidade, o sindicato foi um lugar de escuta e ação: “Quando comecei a sofrer injustiças profissionais, encontrei no sindicato uma forma de transformar a dor em luta.” Para Priscila, a percepção da importância do coletivo veio com a maternidade. “Eu achava que dava conta de tudo sozinha, mas criar uma criança sem rede de apoio é praticamente impossível. A maternidade me ensinou que a coletividade é essencial.”
Essa mesma valorização do cuidado coletivo foi levada para a militância sindical. Ambas acreditam que o sindicato precisa não só acolher as mães trabalhadoras, mas também construir caminhos para que elas possam atuar plenamente. Priscila defende a ampliação de creches, o acolhimento psicológico e a conscientização sobre o papel dos homens no cuidado. “O cuidado não pode continuar sendo responsabilidade exclusiva das mulheres. O sindicato precisa propor políticas como a licença paternidade de igual período, por exemplo. É um avanço necessário.”
Futuro com acolhimento e equidade
Para o futuro, Sheyla e Priscila desejam que as novas gerações de mães encontrem um ambiente mais justo — tanto nas empresas quanto nos sindicatos. Que possam exercer suas funções com apoio e respeito, sem que a maternidade seja vista como um empecilho ou uma fraqueza.
“Quero deixar um mundo melhor para os meus filhos. Sei que sou só um grão, mas muitos grãos juntos fazem a diferença”, afirma Sheyla. Já Priscila reforça: “A maternidade e o sindicalismo têm algo em comum: ambos nos ensinam que ninguém faz nada sozinho.”
O SINTPq segue ao lado dessas e de tantas outras trabalhadoras que, com coragem, cuidado e luta, constroem novos caminhos. Porque defender a maternidade também é defender a ciência, o trabalho digno e a justiça social.
Neste Dia das Mães, deixamos nossa homenagem a todas que cuidam, lutam e seguem em frente com coragem. Mães que trabalham dentro e fora de casa, que constroem saberes, que não desistem.
Feliz Dia das Mães! Que nunca falte afeto, respeito e reconhecimento.