Versos da Ilíada inspiram poeta ganhadora do Prêmio Jabuti de 2022
Espetáculo critica a violência contemporânea
A atriz e poeta Luiza Romão traz ao palco do Sesc Vila Mariana o espetáculo "Também Guardamos Pedras Aqui", uma adaptação de seu livro homônimo, laureado com o Prêmio Jabuti em 2022. A peça, enraizada na análise crítica da "Ilíada", obra fundamental da literatura e do teatro ocidentais, mergulha nas discussões sobre violência e opressão.
Romão propõe uma releitura da epopeia grega de Homero, questionando a maneira como a narrativa épica glorifica massacres como feitos heroicos, enquanto destaca a falta de equidade e oportunidade para os troianos, vítimas de uma guerra desigual em que os deuses favorecem os gregos. Essa reflexão é ampliada para abordar as formas contemporâneas de violência, como ações policiais, e as complexidades das relações de gênero na sociedade atual.
Através de intervenções diretas com o público, Romão contextualiza os versos da "Ilíada" e compartilha suas próprias vivências, incluindo uma experiência marcante durante uma viagem à Bolívia, onde visitou locais históricos ligados à luta revolucionária e refletiu sobre o legado de figuras como Che Guevara. Esses momentos pessoais ampliam o alcance do espetáculo, conectando as narrativas épicas do passado com as realidades contemporâneas.
Além disso, o espetáculo aborda a questão da censura, representada pela ocultação de versos na obra original, que revelam as atrocidades cometidas pelos gregos durante a guerra de Troia. Essa ocultação serve como ponto de partida para reflexões sobre a manipulação da narrativa histórica e a necessidade de enfrentar os horrores do passado para construir um futuro mais justo e equitativo.
Assim, "Também Guardamos Pedras Aqui" não apenas apresenta uma nova interpretação da "Ilíada", mas também convida o público a refletir sobre as complexas interseções entre mito e realidade, passado e presente, violência e resistência.
Música e Karaokê
A música desempenha um papel fundamental no espetáculo, com a direção geral e musical a cargo de Eugênio Lima, um dos fundadores do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, conhecido por unir a estética do hip-hop ao teatro épico. Em uma entrevista à Agência Brasil sobre os 50 anos da cultura hip-hop, Lima explicou que esse "casamento estético" é fundamentado na ideia de autorrepresentação, onde cada indivíduo tem a oportunidade de narrar sua própria história.
A abordagem do espetáculo, denominada como "dramaturgia cênica" por Lima, valoriza a autonomia das diferentes linguagens artísticas. Ele ressalta que o texto, a música e a atuação não estão subordinados uns aos outros, mas sim são elementos igualmente importantes para a narrativa.
Uma das manifestações dessa diversidade é o uso da estética do karaokê, onde Luiza declama alguns poemas como se estivesse cantando músicas bregas. Essa abordagem, embora carregada de ironia, dialoga diretamente com a tradição do teatro grego, que alternava entre tragédias e comédias. Além disso, o espetáculo também explora um tema universalmente presente nas artes: o sofrimento por amor.
O espetáculo está em cartaz às sextas-feiras e sábados até o dia 18 deste mês, às 20h, e mais informações podem ser obtidas na página do Sesc.
Serviço:
- Espetáculo: "Também Guardamos Pedras Aqui"
- Data: Até o dia 18 deste mês (Sextas-feiras e sábados)
- Horário: 20h
- Local: Sesc Vila Mariana
Fonte: com informações da Agência Brasil
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