Notícias | Retirada da autarquização da pauta do Consu reforça pressão de trabalhadores e do SINTPq por debate transparente

Retirada da autarquização da pauta do Consu reforça pressão de trabalhadores e do SINTPq por debate transparente

Após mobilização conjunta, proposta de criar o HC-Unicamp é suspensa e sindicato defende abertura imediata de negociação para evitar precarização do trabalho e queda na qualidade do atendimento.

03/12/2025

Por Israel Moreira

hc

Foto: Divulgação / Unicamp

O SINTPq, em conjunto com trabalhadoras e trabalhadores da Funcamp, conquistou nesta terça feira, 2 de dezembro, a retirada de pauta no Conselho Universitário da Unicamp do projeto que autarquizaria os serviços de saúde da universidade, incluindo o Hospital de Clínicas (HC). A proposta criaria o HC-Unicamp sob gestão da Secretaria Estadual da Saúde, transferindo orçamento e administração do complexo hospitalar, enquanto a instituição manteria a responsabilidade acadêmica. A decisão de retirar o item de votação ocorreu após forte pressão sindical e mobilização da comunidade universitária, que denunciou a ausência de debate público e os riscos de precarização das relações de trabalho.

O SINTPq considera que mudanças dessa magnitude exigem debate amplo, técnico e transparente, com participação efetiva das trabalhadoras e dos trabalhadores que garantem diariamente o funcionamento do HC. A retirada do tema da pauta abre espaço para que esse diálogo possa finalmente ocorrer de forma adequada, corrigindo a condução adotada até agora pelo governo paulista e pela gestão da universidade. Para o sindicato, a prioridade é assegurar que qualquer reestruturação não resulte em perda de direitos, insegurança contratual ou redução da qualidade assistencial prestada à população.

A principal preocupação do SINTPq é a possibilidade de precarização do trabalho dos profissionais da saúde e de impactos diretos no atendimento oferecido pelo hospital. A minuta discutida no Consu não apresentou estudos de impacto, nem um plano concreto de transição, o que gerou insegurança para mais de 1.500 trabalhadoras e trabalhadores da Funcamp que atuam nas áreas assistenciais, de apoio e de manutenção do HC.

A seguir, o SINTPq encaminha para leitura integral a carta conjunta produzida pelos trabalhadores da Funcamp, documento que expressa os riscos identificados e reforça a necessidade urgente de construção de um processo democrático de negociação.

Preocupações e reivindicações dos trabalhadores da Funcamp diante do processo de autarquização do Hospital de Clínicas da Unicamp

À
Reitoria da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp
Ao Conselho Universitário – CONSU
Ao Excelentíssimo Governador do Estado de São Paulo, Sr. Tarcísio de Freitas
Às Senhoras e Senhores Deputadas(os) Estaduais da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo – ALESP

Prezadas e Prezados,

Nós, trabalhadoras e trabalhadores da Funcamp que atuam no Hospital de Clínicas da Unicamp (HC), apresentamos por meio desta carta nossa posição e nossas preocupações quanto ao processo de autarquização do HC, atualmente conduzido sem diálogo adequado, sem transparência e sem apresentação de um plano concreto que assegure a manutenção dos vínculos, direitos e condições de trabalho dos mais de 1.500 profissionais da Funcamp que hoje sustentam o funcionamento cotidiano do hospital.

Ao longo de décadas, nosso trabalho tem sido determinante para garantir a continuidade, a qualidade e a eficiência dos serviços prestados à população. Somos responsáveis por áreas essenciais como assistência, enfermagem, atendimento, limpeza, manutenção, apoio administrativo, segurança e diversas atividades operacionais indispensáveis ao funcionamento do HC. Contudo, apesar de nossa relevância, estamos sendo mantidos à margem das discussões que definirão nosso próprio futuro.

As informações já divulgadas sobre os modelos de autarquização em debate indicam a possibilidade concreta de precarização e até demissão dos trabalhadores da Funcamp. Tal perspectiva nos causa profunda apreensão pelos seguintes motivos:

  1. Precarização das condições de trabalho
    A precarização tende a ampliar a sobrecarga, reduzir equipes e comprometer o ambiente laboral, colocando em risco a saúde e a segurança dos trabalhadores.
  2. Perda de direitos e insegurança financeira
    A alteração de vínculo pode acarretar redução salarial, perda de benefícios e descontinuidade no tempo de serviço, gerando instabilidade para centenas de famílias.
  3. Prejuízo à qualidade assistencial
    A substituição de equipes experientes por contratos precarizados compromete a continuidade dos fluxos internos, impactando diretamente o atendimento à população.
  4. Desvalorização dos trabalhadores que mantêm o HC em funcionamento
    Apesar de sermos responsáveis pela execução diária das atividades essenciais do hospital, estamos sendo excluídos das mesas de negociação, o que evidencia um tratamento injusto e desrespeitoso.

Diante desse cenário, solicitamos formalmente:

  1. A abertura imediata de um canal oficial de diálogo, com participação direta e permanente dos trabalhadores da Funcamp nas discussões sobre a autarquização.
  2. A apresentação de um plano detalhado de transição, com garantias explícitas sobre:
    manutenção dos empregos;
    preservação de direitos, salários e benefícios;
    reconhecimento do tempo de serviço;
    condições de trabalho equivalentes ou superiores às atuais.
  3. A suspensão de quaisquer decisões unilaterais enquanto não houver debate amplo, técnico, transparente e democrático.
  4. Que o governo estadual e o CONSU considerem a centralidade dos trabalhadores da Funcamp para o funcionamento do HC e a essencialidade de sua manutenção no quadro funcional do hospital autarquizado.

Nós trabalhadores da Funcamp que sustentamos o funcionamento diário do hospital, permanecemos sem garantias e sem voz no processo. Isso é incompatível com os princípios de justiça, responsabilidade social e compromisso público que devem nortear tanto a universidade quanto o Estado.

Por fim, reafirmamos nossa disposição para o diálogo e para a construção de soluções que preservem o interesse público, a qualidade do atendimento à população e a dignidade dos trabalhadores.

Atenciosamente,
Trabalhadores da Funcamp
SINTPq – Sindicato dos trabalhadores em pesquisa, ciência e tecnologia.