Após mais de um ano de pandemia, alunos da rede estadual ainda enfrentam dificuldades no ensino remoto
Alguns alunos e professores não conseguiam obter conexão com a internet para que fosse possível baixarem o Centro de Mídias.
Desde março de 2020, a internet tem sido essencial para a educação após as escolas terem sido fechadas por conta do coronavírus. Com a incerteza de quando tudo voltaria ao normal, em abril do ano passado, a Secretaria do Estadual de Educação de São Paulo (SEDUC) lançou um aplicativo, o Centro de Mídias (CMSP), para que os alunos pudessem ter acesso a videoaulas e as atividades escolares. A partir de maio, uma atualização do aplicativo possibilitou o acesso sem ter conexão com a internet. Porém, de acordo com alunos e professores da rede estadual, o aplicativo não facilitou de modo com que todos pudessem acessar.
Alguns alunos e professores não conseguiam obter conexão com a internet para que fosse possível baixarem o Centro de Mídias. Além disso, havia complicações para contatar as escolas para realizar o cadastro. A partir disso, as aulas começaram a ser realizadas por diversas plataformas como o WhatsApp, Meet, Zoom, entre outros. Ou seja, o acesso à internet ainda permaneceu necessário, demandando conexão e equipamentos eletrônicos muitas vezes escassos ou inexistentes nas famílias de baixa renda. O SINTPq está atento a esse cenário e busca ajudar promovendo uma campanha de arrecadação de tablets para estudantes carentes. Mais informações estão disponíveis no link.
Conforme dados divulgados em reportagem da Agência Pública, a secretaria informou a distribuição de 750 mil chips. Desse total, 500 mil foram destinados a alunos a partir do 8º ano do ensino fundamental ao ensino médio da rede estadual e 250 mil para os profissionais das escolas. A princípio, os chips seriam fornecidos entre novembro e dezembro de 2020, mas só foram distribuídos em janeiro deste ano. A quantidade de chips fornecidos daria suporte para 15% de 3.325.149 alunos da rede estadual, com um gasto de R$ 75 milhões por parte do governo paulista para manter o benefício por apenas um ano, segundo informações da SEDUC à Agência Pública.
Em entrevista cedida à reportagem mencionada acima, Jan Alves, professora da rede estadual há 14 anos e atualmente lecionando em Guarulhos/SP, relata que o processo tem sido demorado e a distribuição dos chips não chega para todos. “É um processo longo, tem que fazer um cadastro, esperar um prazo, os chips chegam por lotes e não são distribuídos para todos, né? Temos alunos trabalhadores, alunos do EJA [educação de jovens e adultos], que não foram contemplados com esse chip. Então, os que têm mais dificuldade de permanecer nas aulas são esses alunos adultos que trabalham e que não têm acesso à internet em casa ainda. Às vezes têm acesso à internet básica, que não permite abrir arquivos mais pesados”, afirma.
Os alunos precisam se cadastrar no CadÚnico, programa do governo federal para famílias de baixa renda que dá acesso a benefícios como o Bolsa Família. Em outras palavras, por mais que o aluno esteja numa situação de pobreza ou pobreza extrema, se os responsáveis ou o estudante não estiverem cadastrados no programa, as chances de receber o chip diminuem. Além disso, de acordo com a Agência Pública, cerca de 641.496 alunos dos anos iniciais (do 1° ao 5° ano escolar), além do 6° e 7° ano dos anos finais, não têm direito à medida que visa garantir a conexão para os estudos.
Além da conexão com a internet, outro problema que tem afetado os alunos é a falta de equipamento. Segundo a estudante Estefany Karolainie, de 12 anos, não ter um equipamento próprio atrasa as entregas de atividades. “Hoje eu fiz a lição de artes, tenho outras pra fazer, mas cada dia eu pego uma. Porque não sou só eu, entende? Quando minha mãe precisa, ela sai e leva o celular. Fico mais tranquila porque eles deram o chip, o que complica é o meu celular.”, diz a estudante.
A professora Jan Alves auxiliou a estudante para que ela pudesse realizar as atividades. “Realmente, no celular dela não baixa nada, nada. Eu já peguei, pedi pra ela ir à escola. Ela sempre me manda mensagem porque quer fazer as atividades do Classroom [Google Sala de Aula], mas não tem como porque o celular dela não aguenta e o da mãe não tem mais memória pra baixar”, confirma Jan.