Notícias | Home Office: Funcionários se mudam de cidade ou país sem informar suas empresas

Home Office: Funcionários se mudam de cidade ou país sem informar suas empresas

Trabalhadores estão deixando de informar as empresas que estão viajando ou mesmo que se mudaram definitivamente

05/05/2023

 
Com a pandemia, muitos funcionários passaram a trabalhar em casa pela primeira vez, e isso possibilitou a mudança para outra cidade ou país. Cerca de 30 nações passaram a oferecer vistos de nômade digital desde 2020, no modelo "escritório em qualquer lugar".  O home office é uma questão muito discutida na base do SINTPq, sendo defendido por grande parte dos trabalhadores. Nesta semana, uma reportagem da BBC abordou um outro aspecto dessa modalidade de trabalho: profissionais que se mudam e não informam suas empresas. 
 
É o caso de Diego*, profissional ouvido pela BBC na reportagem, que mudou-se para a Itália em 2019 para trabalhar em um emprego presencial na área de atendimento ao cliente. Com a pandemia, seu trabalho mudou para home office e, em outubro de 2021, ele retornou ao Brasil sem informar a empresa. Ele justifica que existe uma lei da União Europeia que proíbe serviços de call center fora do bloco, além de preferir receber em euro. 
 
"A questão de receber em euro [daqui do Brasil] também foi um grande fator para mim. Mas o grande motivo de voltar foi que estava entrando em depressão na Europa. Eu não estava muito feliz, a Itália tem uma população muito idosa e sentia saudades do Brasil", conta o jovem.
 
Diego* mantém sua situação em segredo da empresa, utilizando dois celulares e não compartilhando suas redes sociais. Ele precisa ter cuidado com o fuso horário ao cumprir as demandas de trabalho.
 
Ainda é importante o local onde se trabalha?
 
Até 40% dos profissionais de gestão de pessoas do Reino Unido e dos Estados Unidos descobriram que seus funcionários mudaram recentemente de local, revelou uma pesquisa realizada pela consultoria de RH Topia. Nos Estados Unidos, 66% dos funcionários admitiram não ter informado o RH sobre todos os períodos que trabalharam fora do local de origem, enquanto 94% acreditam que deveriam poder trabalhar de qualquer lugar, desde que não afetasse a entrega do trabalho.
 
A especialista em recolocação Tais Taiga observa que muitas empresas ainda têm uma cultura de microgerenciamento, desejando saber a todo momento onde seus funcionários estão trabalhando.
 
"Essa questão de ter o trabalho presencial, muitas vezes, vai fazer com que as empresas percam grandes talentos. Outro ponto é que o Brasil pode perder profissionais: muitos países estão abrindo suas fronteiras para trabalhadores estrangeiros, países esses com moedas mais fortes e modelos mais flexíveis", conta Tais para a reportagem da BBC.
 
Posso escolher onde trabalhar sem precisar informar meu chefe?
 
De acordo com a professora Juliana Inhasz, professora de Macroeconomia e Macroeconometria do Insper, a importância do local de trabalho depende do contrato de trabalho vigente. Se o contrato prevê trabalho presencial, mesmo que tenha havido um período de trabalho remoto, a pessoa ainda é considerada um trabalhador presencial. Em caso de troca de modelo, é necessário um aditivo contratual para garantir a liberdade de se mudar de cidade ou país, se não houver obrigatoriedade de trabalho presencial.
 
No entanto, é preciso ficar atento às leis trabalhistas de cada país, pois as empresas podem estar sujeitas a impostos adicionais e multas se os funcionários trabalharem fora do país sem a devida permissão. Para evitar esses riscos, muitas empresas proíbem o trabalho no exterior. A especialista alerta ainda sobre a pejotização, na qual a pessoa não tem a obrigação de trabalho presencial e pode ser autônoma, mas é necessário entender as obrigações fiscais e declarações de impostos entre as partes em diferentes países.