Notícias | Infelizes com as condições de trabalho, jovens estão se demitindo ao vivo no TikTok

Infelizes com as condições de trabalho, jovens estão se demitindo ao vivo no TikTok

O TikTok está repleto de usuários que compartilham vídeos em tempo real do momento em que eles dizem aos seus chefes: "eu me demito"

17/04/2023

Frequentemente, o SINTPq aborda movimentos internacionais que ganham força no mundo do trabalho. Na última semana, uma reportagem publicada pela BBC apresentou mais uma dessas tendências: funcionários jovens que adotam a tática de se demitir ao vivo em vídeos compartilhados nas redes sociais, sendo o TikTok a plataforma de rede social mais popular para essa prática. Esses vídeos curtos têm se tornado cada vez mais populares, atraindo milhares de visualizações e até mesmo milhões em alguns casos.

Os vídeos marcados com a hashtag #quittok podem assumir diferentes formatos. Alguns deles mostram a gravação da demissão de um funcionário em uma chamada ao vivo pelo Zoom ou do momento em que ele entrega a carta de demissão para o seu chefe. Todos os vídeos capturam o exato instante em que os profissionais se demitem, em tempo real.

Os motivos para a tendência #quittok variam de pessoa para pessoa, como mostram diferentes relatos presentes na reportagem da BBC. Em setembro de 2022, Christina Zumbo, de 31 anos, que agora é uma ex-funcionária do governo australiano, compartilhou o momento em que ela clicou "enviar" para mandar seu e-mail de demissão e aguardava ansiosa por uma chamada de vídeo do seu chefe. Zumbo já havia compartilhado relatos de problemas de saúde mental relacionados ao trabalho com seus 140 mil seguidores no TikTok. Ela conta ter percebido que outras pessoas da plataforma se identificaram com a postagem.

Marisa Jo Mayes, de 29 anos, mora no Arizona, nos Estados Unidos, e também vinha usando o TikTok como "válvula de escape criativa e engraçada". Ela compartilhava conteúdos críticos como forma de "combater a infelicidade no trabalho", até que decidiu se demitir ao vivo do seu emprego em uma companhia de aparelhos para uso médico. "Eu ganhava um bom salário, conseguia viajar e trabalhava com um dos maiores nomes do setor, mas era totalmente infeliz", ela conta. "Eu estava passando pelo burnout mais profundo da minha vida, não conseguia pensar em nada além do trabalho e enfrentava problemas de saúde causados pelo estresse."

As pessoas que decidem compartilhar a sua jornada de demissão online muitas vezes recebem um retorno muito positivo dos seguidores. As postagens com a hashtag #quittok criam uma comunidade de pessoas que se identificam e contam suas próprias histórias. "É sempre uma surpresa positiva o senso de comunidade que você percebe quando se abre para mostrar sua vulnerabilidade real e identificável online", diz Zumbo.

Mas, afinal, o que está causando essa mudança no comportamento dos jovens profissionais?

De acordo com Tess Brigham, coach e terapeuta da Califórnia ouvida pela BBC, a geração Z e os millennials, que cresceram em meio à crise econômica de 2008 e enfrentam altas dívidas estudantis e baixos salários, estão passando a priorizar a saúde mental, a felicidade e ambientes de trabalho positivos. Para esses jovens, um emprego não é mais sinônimo de identidade e realização pessoal.

Além disso, a pandemia da covid-19 transformou a experiência inicial no trabalho para muitos profissionais mais jovens, que nunca tiveram a chance de trabalhar em um escritório. Esses fatores de estresse combinados estão inspirando a tendência #quittok, que tem o potencial de incentivar a transparência no mundo corporativo.

Para Brigham, a tendência também reflete uma mudança mais básica nos comportamentos, já que a geração Z cresceu compartilhando todo tipo de conquista online. Para esses jovens, compartilhar conversas particulares com empregadores sobre sua decisão de pedir demissão é tão natural quanto compartilhar momentos significativos da vida.

Mas quais são as consequências de longo prazo das demissões ao vivo e da postagem de vídeos #quittok? Ainda não está claro como essas postagens podem afetar oportunidades futuras de carreira. No entanto, a tendência tem o potencial de incentivar a transparência no mundo corporativo, o que pode ser positivo para os profissionais mais jovens que priorizam a saúde mental e ambientes de trabalho positivos.

Priscila Leal, diretora do SINTPq e pesquisadora do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, ressalta a importância de refletirmos sobre as razões por trás dessas atitudes que envolvem as demissões ao vivo. 

"Muitos jovens estão em busca de propósito e realização pessoal em suas carreiras. A demissão ao vivo pode ser vista como uma forma de expressão destes profissionais, que buscam deixar claro suas insatisfações e buscar novas oportunidades", avalia Priscila Leal. 

A diretora do SINTPq destaca ainda o papel da entidade neste novo contexto das relações de trabalho: "Como sindicato, é nosso papel acompanhar essas mudanças enquanto defendemos os direitos dos trabalhadores. O SINTPq está atento às necessidades dos trabalhadores e disponível para ajudá-los em todas as etapas do processo de trabalho, desde a busca por novas oportunidades até a resolução de possíveis conflitos."