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Mulheres têm os piores indicadores de desemprego, subutilização e taxa de ocupação

Tanto no mercado formal como informal do trabalho as mulheres ganham menos em comparação aos homens; situação é pior para mulheres negras

07/03/2024

Diversas pesquisas mostram que as mulheres, mesmo estando na mesma posição de trabalho que os homens, ganham menos do que eles e são as que mais têm empregos informais pois precisam ter “tempo livre” para cuidar da casa e dos filhos, que nada mais é do que uma outra jornada de trabalho, mas sem remuneração financeira. 

E mesmo que as mulheres estudem e se capacitem mais do que homens, a remuneração é menor. Dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), sobre o mercado formal, com carteira assinada, mostra que em novembro de 2023, a defasagem era de 10%. Porém, em postos que solicitam ensino superior, a diferença chega a 29,3%. Enquanto eles recebem, em média, R$ 5.052, elas ganham R$ 3.570. Isso equivale a mais de um salário-mínimo a menos no bolso das mulheres: R$ 1.482.

Quando se olham os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que traz também o mercado informal do trabalho, na comparação com os homens, as mulheres são ainda mais discriminadas tanto no valor pago sobre a sua mão de obra como nas oportunidades de emprego.

A economista, professora e pesquisadora da Unicamp, Marilane Teixeira, que estuda o mercado de trabalho há 20 anos, afirma que a diferença salarial entre homens e mulheres se mantém praticamente a mesma desde que iniciou suas pesquisas.

“A variação percentual dos salários das mulheres às vezes sobe um ponto, ou meio, e depende muito também do momento do mercado de trabalho, porque, claro, tem diferença maior na informalidade. Se o mercado de trabalho está mais informal, por conta própria, a diferença tende a aumentar, em média”, diz.

A economista ressaltava que se há um ingresso massivo de mulheres negras, “o tipo de ocupação que está sendo gerado também tende a aumentar as diferenças salariais, mas se você olhar a trajetória, ela pouco se alterou em relação aos dados mais atuais”, diz Marilane, que também participou do Grupo de Trabalho (GT), formado por representantes de entidades sindicais, movimento de mulheres e ministérios da Mulher e do Trabalho e Emprego, na elaboração da lei da igualdade salarial.

O último dado da PNAD Contínua referente ao quarto trimestre de 2023, mostra que a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho está em torno de 52,7%. Ou seja, para cada 100 pessoas em idade ativa, acima de 14 anos, tem 52,7 mulheres no mercado de trabalho, enquanto que entre os homens o percentual é de 72,3% - uma diferença de quase 20%.

Por estados, conta Marilane, a diferença é bem maior na região Norte e Nordeste, enquanto no Distrito Federal, a participação feminina no mercado de trabalho é maior, em função, do número de mulheres que atuam dentro do funcionalismo público.

No 4º trimestre de 2023, os números do mercado de trabalho no Brasil revelaram uma diminuição na taxa de desocupação, porém, destacou-se a persistência das desigualdades, especialmente para as mulheres, sobretudo as mulheres negras, egundo dados do Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicas (Dieese), no “Boletim Mulheres no mercado de trabalho: desafios e desigualdades constantes”, divulgados na quarta-feira (6),

Enquanto a desocupação entre os homens registrou uma queda de 6,5% para 6,0%, entre as mulheres essa taxa passou de 9,8% para 9,2%. No entanto, as mulheres continuaram a representar a maioria dos desocupados, com 54,3% nessa situação. Dentro desse grupo, 35,5% eram mulheres negras.

A pandemia agravou ainda mais a situação das trabalhadoras, com taxas de desemprego mais altas e dificuldades de recolocação no mercado de trabalho após perderem empregos, especialmente em setores fortemente afetados pela crise. Mesmo com a retomada econômica, muitas ainda enfrentam obstáculos para encontrar trabalho.

A análise dos rendimentos também revela disparidades gritantes: no 4º trimestre de 2023, o rendimento médio mensal das mulheres foi 22,3% menor do que o dos homens. Além disso, 39,9% das ocupadas recebiam no máximo um salário mínimo, sendo que entre as mulheres negras essa proporção chegava a 49,4%.

A informalidade também afeta de forma significativa as mulheres, especialmente as negras. Enquanto os homens voltaram ao nível anterior à crise sanitária, as mulheres encontraram mais dificuldades para se inserir novamente no mercado de trabalho formal. A taxa de subutilização, que considera pessoas subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas, foi maior entre as mulheres negras, indicando que muitas trabalham menos do que gostariam e precisam.

A concentração das mulheres negras nos quintis mais pobres de rendimento do trabalho é alarmante, refletindo a falta de acesso a oportunidades e direitos. A informalidade também é predominante entre elas, com a maioria das trabalhadoras por conta própria sem CNPJ, o que as priva de benefícios e proteção legal.

taxa de desemprego para as mulheres está em torno de 9,2%, enquanto que para os homens a taxa é 6.0%, a diferença é de praticamente um terço a mais de desemprego entre as mulheres na comparação com os homens. No caso das mulheres negras é ainda maior, de 11,1%.

A pesquisa completa com todos estes dados pode ser acessada  clicando aqui

O Dieese também lançou o “Infográfico Brasil e regiões: Mulheres - inserção no mercado de trabalho“, que pode ser acessado aqui.

Os dois trabalhos têm como base de dados a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE.