Notícias | Economia solidária é alternativa para geração de trabalho e renda

Economia solidária é alternativa para geração de trabalho e renda

04/04/2016

Quando dificuldades financeiras atingiram a produção rural de Ivo Ricardo Barskmecht, o gaúcho de 63 anos se viu obrigado a fechar a empresa de produção e comercialização de soja que mantinha há mais de dez anos. A necessidade de inovar o levou a substituir o modelo tradicional de agricultura pela agroecologia, alternativa de cultivo que leva em consideração o manejo ecológico dos recursos naturais.

A produção agroecológica tornou-se a principal fonte de renda da família Barskmecht e de mais outros cinco produtores de frutas e hortaliças da região do entorno do Distrito Federal, que se uniram ao agricultor familiar para desenvolver um modelo alternativo de produção e geração de renda, e fundaram o Coletivo Agrocarajás, em Cidade Ocidental, no Goiás.

A história de Ivo Ricardo é um dos muitos exemplos de transformações que vêm ocorrendo no mundo do trabalho nos últimos anos: atividades econômicas que se organizam de modo coletivo, cooperado, autogestionado e, muitas vezes, com moedas e sistemas próprios de comercialização ou troca. É o modelo da Economia Solidária.

Sejam em grandes ou pequenas empresas, nos meios rurais ou urbanos, os empreendimentos econômicos solidários seguem outra proposta de produção, venda e consumo, pautados principalmente na administração coletiva dos meios – terra, equipamentos e instalações –, na valorização, e não exploração, do trabalho humano.

Para Ivo, este é o modelo que melhor se adapta a quem produz no campo: “a Economia Solidária foi a salvação da agricultura familiar. Se não fossem as cooperativas e o sistema de parcerias, não haveria como comercializar individualmente”. O novo negócio permitiu que os quatro filhos do agricultor deixassem a cidade e retornassem ao campo ganhando o dobro da renda do antigo trabalho.

O modelo de empreendimentos econômicos solidários é uma alternativa, e também uma estratégia para combater o desemprego, avalia Paul Singer, secretário Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Previdência Social (Senaes/MTPS). “Com a mobilização da sociedade civil e com a ampliação das políticas nacionais de assessoramento técnico, de apoio à comercialização e organização comunitária das finanças, poderemos contribuir para uma saída autônoma e coletiva organizada pelos próprios trabalhadores desempregados”.

Autonomia e desenvolvimento

O modelo também deu certo para Arildo Mota, 51 anos. O sistema de autogestão inspirado na Economia Solidária permitiu que no ano 2000, o então torneiro vertical de uma empresa de metalurgia na região do ABC paulista se unisse a outros 280 trabalhadores para recuperar e administrar a corporação à beira da falência.

Dos 1.600 trabalhadores da empresa à época, a cooperativa Uniforja - antiga empresa Conforja - totaliza hoje 250 sócio-cooperados e mais 150 colaboradores empregados sob o regime de contratação celetista. “No início foi difícil entender que por um lado éramos trabalhadores e, ao mesmo tempo, responsáveis pela administração e fluxo de caixa do local onde trabalhávamos. Foi um processo duro, mas a Economia Solidária é um caminho democrático na geração de trabalho e renda”.

Arildo conta ainda que para reestruturação e a manutenção destes 400 postos de trabalho foi essencial a ação de Apoio a Projetos de Recuperação de Empresas por Trabalhadores Organizados em Autogestão, iniciativa do Ministério do Trabalho e Previdência Social, que por meio de editais da Senaes, estabelece parcerias com universidades e instituições para oferecer assessoria técnica e organizativa, cursos de gestão para os trabalhadores dos empreendimentos de Economia Solidária. Também são ofertados apoio jurídico para formalização das cooperativas, estudos participativos com os próprios trabalhadores para análise da viabilidade econômica, formulação de estratégias para acesso ao crédito e ao mercado. A Senaes também realiza o acompanhamento periódico do plano de negócios do empreendimento em processo de recuperação.

De 2011 a 2015 o governo federal investiu R$ 541 milhões em ações da Economia Solidária, que beneficiaram diretamente 259,7 mil pessoas em 11,1 mil empreendimentos. Apenas no ano de 2015 foram R$ 52,2 milhões para apoiar 34 mil trabalhadores em todo país, e a expectativa é "dinamizar e dar capacidade a novos investimentos", afirma Roberto Marinho, secretário-adjunto da Senaes, para quem a viabilização dos negócios solidários, por meio de incentivos federais, tem permitido “a superação da pobreza a partir do trabalho e obtenção de renda”.

Para 2016, a Senaes estabeleceu como prioridades o fortalecimento da política da Economia Solidária, a ampliação do acesso ao crédito e aos investimentos socioprodutivos - articulado com assessoria técnica -, a estruturação dos instrumentos e mecanismos de produção, comercialização, consumo responsável e solidário; o reconhecimento público e legal dos empreendimentos economicamente solidários; assim como a ampliação do acesso às áreas de conhecimento e tecnologias sociais.

Fonte: Ministério do Trabalho e Previdência Social