Entrevista: Pesquisador Thierry Marcondes apresenta projeto capaz de verificar qualidade da gasolina por meio de tecnologia óptica
Se depender de um grupo de pesquisadores de Campinas os condutores poderão ficar mais tranquilos em breve. A equipe formada por três engenheiros e um designer de produtos criou um sensor óptico capaz de verificar instantaneamente se o combustível é "batizado". A ideia e o projeto surgiram ainda na universidade, mas a equipe continuou o trabalho e almeja inseri-lo no mercado automotivo. Com apenas 27 anos, o jovem pesquisador e empreendedor Thierry Cintra Marcondes (foto) se destaca no desenvolvimento de tecnologias óptico eletrônicas. Ele é formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e criou a empresa Lux Sensor para desenvolver e inserir seus projetos no mercado. Confira abaixo uma entrevista com Thierry Marcondes e conheça o desenvolvimento e funcionamento do projeto, além dos planos da equipe para o futuro. O projeto desenvolvido é capaz de verificar a qualidade da gasolina. Como essa verificação é feita? Que processo utiliza? O produto verifica a gasolina por meio do sistema óptico eletrônico que analisa a composição dos solutos e dos solventes. Com isso, eu posso tirar algumas informações através do índice de refração, como densidade e composição. Assim ele se torna um medidor da qualidade da gasolina, podendo verificar se a mesma está batizada ou não e se está fora de padrão. Como já disse, a medição é feita através de índices de refração do sistema óptico. SINTPq: Como foi o processo de desenvolvimento do projeto? Vocês receberam apoio financeiro da faculdade, do governo ou do setor privado? O projeto teve início no Desafio Unicamp. Fomos campeões e ganhamos um prêmio de R$ 12 mil, que na época foi dividido igualmente entre os quatro integrantes da equipe. Eu e meu sócio Wellington Souza preferimos investir esse dinheiro no projeto. Então conseguimos a oportunidade de ir para a Espanha captar investimentos e depois para o Desafio Intel. No desafio promovido pela Intel acabamos não ganhando dinheiro, mas ele foi o impulso que tivemos para tentar desenvolver o projeto a baixíssimo custo, usando a infraestrutura da Unicamp e tendo apoio dos professores. Não recebemos aporte financeiro da Unicamp, contamos apenas com o dinheiro do prêmio. Para o sistema dar certo estamos buscando parceiros grandes, como Bosch ou inclusive alguma montadora. Por isso surgiu até a possibilidade do SmartLight, que é um sistema que sinaliza a direção de conversão do carro automaticamente por meio da seta quando o motorista esquece de indica-la. Esse sistema se mostrou mais fácil para ser lançado no mercado e conseguimos captar recursos do governo de Minas Gerais. SINTPq: Como o equipamento pode ser instalado nos veículos? Esse processo teria qual custo? O sistema ainda não está finalizado, mas a ideia é que ele seja instalado no bocal do tanque de combustível. Para isso é necessário substituir o bocal tradicional, sendo assim precisamos de uma parceria com o fabricante do tanque para que ele já possa ser instalado e funcionar automaticamente. Como o sistema ainda está em desenvolvimento não tenho noção de custo. SINTPq: A equipe também desenvolveu um sensor voltado para a indústria. Quais as diferenças e semelhanças dele em relação ao utilizado nos carros? Nosso sensor industrial é um medidor de açúcar em linha e em tempo real, que visa melhorar o processo fermentativo. O sistema óptico eletrônico é o mesmo utilizado no sensor de combustível, a única coisa que muda é o software, a maneira como analisamos e computamos os dados e a interface com o usuário. Além disso, a versão para a indústria exige muito mais elementos, ela precisa de fontes para manter-se regulado e um processador melhor. Por isso, um sistema acaba sendo muito mais caro que o outro, mas o método de funcionamento é o mesmo. SINTPq: Os testes de qualidade podem ser feitos em outros tipos de combustíveis? Sim. Temos alguns outros desafios a serem superados e coisas que precisam ser desenvolvidas, mas meu ((o)) sistema óptico eletrônico mede o soluto no solvente. Isso significa que se eu quiser saber a quantidade de açúcar na água, eu consigo verificar. Também é possível saber outras coisas, como quantidade de minério na água, a quantidade de mistura dos refrigerantes, entre outros. O meu desafio é, por exemplo, com relação ao diesel. O diesel possui enxofre e eu consigo medir sua quantidade, mas esse valor presente não se comporta de uma forma tão linear, é uma função complexa. Por isso, para meu sistema se tornaria complicado realizar essas análises, mas mesmo assim é possível fazê-las. SINTPq: Vocês ainda planejam evoluções no projeto ou o consideram finalizado? No mundo empresarial e do empreendedorismo nenhum projeto é finalizado. A menos que a tecnologia ou o produto morram. Você sempre tem possibilidade de evolução e melhorias. Por isso, o projeto não está finalizado. Ainda estamos trabalhando no verificador de combustíveis e também no sensor industrial de quantidade de açúcar no melaço. Podemos melhorar os projetos desenvolvendo-os para análises no diesel e no refrigerante, melhorando a sensibilidade de suas análises, fazendo uma redução de custos, entre outros avanços. Existem muitas variáveis que podem ser melhoradas. SINTPq: O projeto concorreu a um prêmio de inovação promovido pela Intel nos Estados Unidos. Como foi a experiência de disputar uma premiação no exterior? Foi uma experiência muito bacana. Principalmente pelo fato do meu sonho e do restante da equipe era conhecer o famoso Vale do Silício, a terra dos empreendedores e onde surgiram as grandes empresas que conhecemos hoje. Então em termos de experiência pessoal foi fantástico, aprendemos bastante, vimos que os grandes empreendedores são de carne e osso como nós. Porém, fiquei um pouco decepcionado por não chegar ao lugar almejado e conseguir captar os recursos que precisávamos para finalizar o projeto. Infelizmente não conseguimos isso. SINTPq: Você considera que o projeto vem tendo o devido reconhecimento? Nos Estados Unidos eu senti que não tivemos o devido reconhecimento, talvez pelo fato do problema de combustível não os afetar da mesma maneira, uma vez que os americanos possuem gasolina pura. Mas no Brasil ainda existe um mercado gigantesco a explorar. Esse potencial não se limita a questão do combustível adulterado. O fato de usarmos o sistema de carros flex, e com isso causar frequentes misturas entre diferentes combustíveis no tanque, exige um controle sobre a composição do combustível para melhorar a eficiência energética do carro e para evitar qualquer tipo de fraude. Então eu vejo que meu produto possui esses dois valores e isso tem gerado reconhecimento. SINTPq: Alguma empresa ou instituto público manifestou interesse no projeto? Qual sua expectativa para o projeto no futuro? Houve interesse de algumas empresas, principalmente das grandes e que atuam na área de combustíveis. Entretanto, por se tratarem de empresas multinacionais a negociação é um pouco mais complicada, devido aos processos burocráticos e as limitações no desenvolvimento brasileiro. A ideia é captar investimentos e recursos com o SmartLight, e até abrir algumas portas via empresas grandes e montadoras para que futuras negociações com o sensor sejam possíveis. |
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