Notícias | Mais de 4 milhões de jovens com ensino superior não têm emprego com direitos

Mais de 4 milhões de jovens com ensino superior não têm emprego com direitos

A precarização das regras trabalhistas e a falta de investimentos públicos na geração de empregos com carteira assinada têm levado milhões de jovens com formação universitária a trabalharem em bicos.

23/02/2022

Jovens se formam e viram trabalhadores por conta própria ou fazem bicos para sobreviver por falta de oportunidades no mercado de trabalho. A chamada "economia do bolo de pote" é vista com bons olhos por alguns, que romantizam a insegurança social com jargões do empreendedorismo. A realidade, entretanto, não é nada romântica, como mostram as informações levantadas em reportagem da Central Única dos Trabalhadores.

A precarização das regras trabalhistas e a falta de investimentos públicos na geração de empregos com carteira assinada têm levado milhões de jovens com formação universitária a trabalharem por conta própria, regularizadas como PJs (Pessoas Jurídicas). São o que a imprensa chama de ‘empreendedores’. 

No Brasil, o contingente de jovens se virando para conseguir uma renda, por mínima que seja, chegou a 4,03 milhões, um recorde histórico no período de julho a setembro desde 2015. Esses jovens não contam com nenhuma proteção social, jurídica e previdenciária, precisando se sujeitar a longas jornadas e baixas remunerações. 

Do total de ‘empreendedores’, 2,1 milhões são mais precarizados ainda, pois não têm nem o Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) – um aumento de 14,1%; 1,93 milhão (+37,2%) têm empresa regularizada na Receita Federal. 

Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad-Continua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao terceiro trimestre de 2021 comparados ao mesmo período de 2019. Os indicadores foram compilados pela pesquisadora Janaína Feijó, do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

A soma de baixo crescimento, chegando a uma recessão, com perdas na renda do trabalhador acabaram desfavorecendo fortemente o emprego, analisa o sociólogo Clemente Ganz Lúcio, ex-diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese): “Se somarmos o desemprego com a baixa na renda, não tem motivos para as indústrias produzirem mais, pois não tem quem compre”. 

O sociólogo reforça ainda que o problema é estrutural causado pelos governos Temer e Jair Bolsonaro (PL) que não investiram dinheiro público para reaquecer a economia, ao contrário, se fixaram no Teto de Gastos Públicos que congelou os investimentos por 20 anos.

“Para piorar, o atual governo não tem articulação com empresários para realizar investimentos e retomar a indústria nacional. Ao contrário dos governos da Europa, EUA e China que estão investindo para diminuir o desemprego, aqui há uma obsessão de Paulo Guedes em privatizar, achando que o mercado privado vai investir”, critica Clemente.