Sociólogo propõe caminhos para a formação de equipes criativas
Ao mesmo tempo em que se persegue a criatividade, ela ainda é tratada como tabu nos ambientes de negócio. Altamente necessária para criar e inovar, ela já foi associada a pessoas descompromissadas. Mas o fato é que ao observar pesquisas de consultorias de carreiras, criatividade é uma das competências mais desejadas quando as empresas iniciam buscas por novas lideranças. Mas é possível desenvolver o espírito criativo? Na visão de especialistas não, uns são mais e outros menos, de maneira que mais importante que se focar e sofrer na tentativa de ser criativo, o ideal é construir equipes criativas.
E como fazer isso? De acordo com o sociólogo Domenico de Masi, que fez a palestra de abertura do IT Forum 2015, criatividade é uma síntese de fantasia e concretude e como é difícil achar pessoas com esses dois pilares balanceados, normalmente se pende para um ou outro lado, ele entende que mesclar pessoas boas em fantasia e outras boas em concretude, se cria uma equipe criativa e vencedora.
“Todas as disciplinas se interessam sobre criatividade. Quando somos mais criativos, como são essas personalidades. Mas o que é isso de fato? São várias as definições, mas eu tenho a minha, para mim é uma síntese de fantasia e concretude. Michelangelo desenhou a cúpula de San Pietro com toda a sua criatividade. Quando ele a desenhou tinha 72 anos, e até o seu falecimento, com 92 anos, ele ia todos os dias para ver como a obra se transformava. Ele é um grande arquiteto não só por pensar na cúpula com fantasia, mas por realizar com sua concretude. Fantasia sem concretude é loucura, concretude sem fantasia é burocracia”, ensinou para uma plateia perto de 600 pessoas.
O próprio De Masi admitiu ser mais propenso à fantasia que concretude, mostrando que tal característica é bastante comum na humanidade. Ele ressaltou que a grande sacada, no entanto, foi quando diversos cientistas perceberam que seria possível criar um cérebro criativo, extraindo o melhor de cada perfil. E assim, chegamos a um grupo criativo. “É fácil? Não. Mas não é tão complexo. É preciso ter pessoas motivadas, que compartilhem da missão, ausência de barreiras em direção à criatividade, e a burocracia é uma barreira muito forte. Se quiserem criatividade selecione pessoas fantasiosas e concretas e crie um clima de tolerância entre elas que haverá uma explosão de criatividade. Estudei mais de 400 grupos criativos e em todos os lugares achei equipes com missão compartilhada e uma mescla entre fantasiosas e concretas.”
As pessoas mais propensas à criatividade têm diferentes interesses, estão sempre orientadas ao futuro e alegres. Brasil e Itália, afirma o sociólogo, têm vantagem nessa questão por possuírem uma atitude lúdica em relação à vida.
Mudança de estilo de vida
Isso não significa, no entanto, que Brasil e Itália estejam em uma situação 100% tranquila. De Masi fez diversos alertas, principalmente, as jornadas de trabalho exacerbadas e também ao uso indiscriminado de reuniões. Essa prática, muito mais que gerar criatividade, traz cansaço e afasta da família e da realidade como um todo.
Tais comportamentos são, na verdade, consequência de uma sociedade pós-industrial que tenta se encontrar e ainda não consegue se desprender de hábitos que já não fazem sentido. E tudo isso tende a piorar até 2030 quando seremos oito bilhões de habitantes, sendo 65% deles vivendo nas cidades, o que aumentará muito o tempo livre. “Vocês são gestores e não percebem, porque os gerentes são os últimos humanos que trabalham 8, 10 horas por dia. Na Itália, Espanha, Grécia, Brasil, o gerente chega às 9 horas da manhã e sai às 21/22 horas e se sente bem por isso. Quando não sabe o que fazer para preencher o tempo, marca uma reunião, é uma perda de tempo coletiva”, critica.
Em uma sociedade que caminha para ter apenas um terço do trabalho voltado ao operário e os outros dois terços divididos igualmente entre trabalho criativo e intelectual executivo, aprender a lidar com sobra de tempo passa a ser um desafio, obviamente, mais para alguns países e menos para outros. Mas o fato é que De Mais defende que o profissional, na medida do possível, saia às 17 horas e vá ficar com a família, frequentar o cinema, porque, assim, se faz uma liderança criativa.
“Todos nós somos criativos, é um processo que acontece 24 horas por dia, esse profissional cria até tomando banho. Pode estar em qualquer lugar, pode unir esse processo com estudo e lazer, o que chamo de ócio criativo. Com trabalho criamos estudo, com estudo criamos conhecimento e com lazer o bem-estar. Em países com Brasil e Itália é possível trabalhar e se divertir”, constata o sociólogo.
Fonte: IT Forum 365
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