Tecnologia 3D ajuda na reconstrução de crânios em hospital do Recife
Aos 20 anos, o jovem Lucas Rafael da Silva, morador de Itapissuma, Grande Recife, tem a sensação de estar recomeçando a viver. Em 16 de março de 2013 seus planos de chegar à faculdade e se formar em pedagogia foram interrompidos. Quinze dias depois de obter a habilitação para guiar sua moto, sofreu um grave acidente, e, mesmo com capacete, teve traumatismo encefálico. Durante o tratamento, perdeu quase um quarto do crânio, motivo para se esconder do mundo. Mas graças à união, no SUS, da cirurgia plástica à tecnologia 3D, ficou livre da deformidade e está disposto a recuperar o que deixou para trás.
A parceria que acaba de devolver a Lucas a parte do crânio milimetricamente perfeita acontece entre o Hospital da Restauração, referência em trauma e neurocirurgia, no Recife, e o Centro de Informação Tecnológica Renato Archer, em Campinas (SP). O serviço estadual é um dos 130 hospitais do País a contar com o apoio do centro do Ministério da Ciência e Tecnologia. Há uma década e meia o CIT ajuda médicos a entender melhor o corpo do doente, tratar e curar seus males.
No HR, o cirurgião plástico que nunca brincou de escultor na infância, mas sempre admirou a arte e a tecnologia, sente-se realizado ao ver o sorriso de volta ao rosto antes sofrido das vítimas do trânsito. Juan Pablo Maricevich, 35, bisneto de um croata que mudou-se para o Paraguai fugindo da Primeira Guerra Mundial, dedica-se a mudar a história de quem sobrevive à batalha moderna. Foi ele quem buscou a parceria em Campinas, aperfeiçoando a técnica de reconstrução usada no hospital. É cirurgião geral, especializou-se em plástica e cirurgia crânio-maxilo-facial, com passagem pelos Institutos Ivo Pitanguy e Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), no Rio de Janeiro.
"Era um desafio encontrar o encaixe perfeito. Com a tecnologia 3D conseguimos moldar a prótese customizada, feita exclusivamente para cada paciente", explica. Em menos de um ano ele já operou 23 pessoas. Maricevich explica que o implante feito sob medida perfeita beneficia não só as vítimas de trauma, mas também quem se submeteu à remoção de tumores, sofreu acidente vascular cerebral (AVC) ou teve outras anomalias que causaram deformidades cranianas. Muitas vezes, mesmo não havendo fratura óssea, é necessário remover um pedaço do crânio quando há inchaço do cérebro.
"Inflamado, não tem para onde expandir. Por isso é necessário abrir o crânio." A parte removida pode ser guardada no abdome. Mas o osso vai sendo absorvido pelo organismo e, na hora de ser reposto, está em tamanho menor, gerando incompatibilidade. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o caminhoneiro de Bom Jardim (Agreste) Antônio Gonçalves, 54, outro a se beneficiar com a técnica que usa tecnologia 3D. Ele foi atropelado no ano passado e em fevereiro último recebeu a prótese. "Minha mãe, de 78 anos, diz que agora estou bonito", comenta.
Depois do protótipo do crânio, feito pela impressora 3D, em Campinas, uma forma também é gerada, para que o médico, durante a operação, molde, em dez minutos, o cimento cirúrgico, biocompatível com o organismo. O procedimento completo dura em média três horas e a peça é fixada com ajuda de ligas de titânio. "Nessa cirurgia reparadora, funcional, a estética é bônus e tem muita importância na saúde mental", observa Maricevich, lembrando o restauro da autoestima do paciente. A reconstrução craniana corrige a deformidade, ao mesmo tempo em que protege o cérebro de disfunções neurológicas e desconfortos causados pela ausência da camada óssea de cinco a sete milímetros.
O engenheiro elétrico Jorge Vicente Lopes da Silva, coordenador da Divisão de Tecnologias Tridimensionais do CTI Renato Archer, mestre em computação e doutor em engenharia química, informa que desde o ano 2000 pacientes têm se beneficiado com o software criado. No ano passado, 516 receberam tratamento apoiados pela tecnologia 3D. Além do Brasil, médicos de países vizinhos têm buscado a parceria. "Nosso objetivo é criar novos polos no País e desenvolver um modelo com menor custo. O que o SUS está proporcionando muitas vezes não é encontrado no setor privado do primeiro mundo", afirma. Segundo ele, 119 nações já utilizam o software do CTI Renato Archer. No Nordeste, um núcleo vem sendo formado na Universidade Estadual da Paraíba, em Campina Grande, para desenvolvimento de tecnologias voltadas à saúde, informa o pesquisador.
Fonte: Jornal do Comércio
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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