Vacina cada vez mais próxima reforça importância dos investimentos em ciência
Enquanto o Brasil vive um cenário crítico em sua ciência, com sucessivos cortes nos últimos anos, os avanços internacionais na vacina contra a Covid 19 mostram, mais uma vez, como os investimentos em pesquisa são fundamentais para qualquer sociedade.
Resultados preliminares da vacina que vem sendo produzida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, apontam respostas cada vez mais seguras e com poucos efeitos secundários para imunização contra a covid-19. Em artigo publicado nesta segunda-feira (20) na revista científica The Lancet, cientistas anunciam que o medicamento tem induzido a produção de respostas imunes tanto por anticorpo, como por células T, em até 56 dias depois da administração da dose.
Ao mesmo tempo, no Brasil, os laboratórios que poderiam estar contribuindo muito mais no combate ao vírus sofrem com falta de insumos e profissionais. Os índices de testagem muito aquém do necessário são um dos sintomas dessa grave doença que atinge a ciência nacional.
O SINTPq enfrenta essa realidade a cada campanha salarial em instituições públicas de pesquisa. No IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e na Amazul (Amazônia Azul Tecnologias de Defesa), por exemplo, estão sendo necessários processos de dissídio e greves para que os salários sejam corrigidos pela inflação.
A ciência não é a única afetada com essa política de desinvestimento. Em 2018, no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias 2019, o governo federal promoveu corte drástico nos investimentos públicos para saúde e educação. De acordo com os cálculos da consultoria de orçamento da Câmara dos Deputados, o corte na área da saúde foi de R$ 1,2 bilhão.
Na visão de Priscila Leal, dirigente do SINTPq e pesquisadora do IPT, o preço dessa política são as milhares de vidas perdidas para a Covid 19 e a ineficiência no combate à pandemia. Confira a seguir.
Estas medidas são reflexos da Emenda Constitucional (EC nº 95), que congelou os investimentos por 20 anos. As consequências nefastas da ortodoxia econômica, em que investimentos nas áreas sociais, saúde e educação são vistos como gastos e reprimidos a qualquer custo são as milhares de vidas ceifadas pela Covid 19, e a insuficiência dos institutos de pesquisas e universidades brasileiras em responder prontamente às demandas urgentes para o enfrentamento de calamidades públicas. As empresas privadas de tecnologia tampouco têm interesse no atendimento à “fundo perdido” da população, e as PPPs (parcerias público-privadas) se mostram insuficientes para cobrir a demanda da sociedade. Não fosse a visão reducionista dos “cabeça de planilha”, as instituições de ciência e tecnologia brasileiras teriam menor tempo de resposta entre o coronavírus e a vacina, UTIs desequipadas e ventiladores, descontrole epidemiológico e testes. Hoje não temos sequer condições de planejamento de políticas públicas para o combate ao Covid 19, pois com a falta de testagem em massa perde-se noção de quantos brasileiros encontram-se infectados. Estamos caminhando no escuro e tropeçando em corpos, e assim estaremos enquanto “gasto” em ciência e tecnologia pública, voltado aos interesses da população, não forem entendidos como investimento. Priscila Leal |
Foto principal: Tânia Rêgo/EBC
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