Notícias | Indústria brasileira de alta tecnologia reduz exportações pela metade em 20 anos

Indústria brasileira de alta tecnologia reduz exportações pela metade em 20 anos

IBGE aponta queda da exportação de tecnologia e aumento do comércio de minério de ferro e soja

03/08/2022

A indústria brasileira está enfraquecendo e perdendo espaço para o setor primário. De acordo com pesquisa do IBGE, as vendas de produtos tecnológicos do Brasil para o exterior caíram para menos da metade do que era no início dos anos 2000. No mesmo período, a exportação de itens não industriais, como minério de ferro e soja, mais que dobraram. De acordo com economistas, o segundo grupo possui menos valor agregado.

Nos últimos anos, diversas indústrias de alta tecnologia fecharam ou suspenderam as atividades por algum período no Brasil, processo agravado pela pandemia. Grandes montadoras de veículos, que empregavam milhares de trabalhadores, fizeram parte desse processo.

A pesquisa do IBGE citada acima mostra que, entre 2013 e 2020, o país perdeu 30 mil indústrias de transformação. Essa indústria já representou 15% do PIB brasileiro, mas caiu para 11%. A perda de importância das indústrias na economia é conhecida como desindustrialização, processo que vem ocorrendo há décadas, mas que se intensificou nos últimos anos.

Na visão de Priscila Leal, secretária-geral do SINTPq e pesquisadora do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), o planejamento e atuação do Estado são o caminho para reverter a desindustrialização.

"Não nos falta mão de obra. Temos engenheiros dirigindo Uber e exportamos astrofísicos para a NASA. O que falta é um projeto de Estado. Enquanto continuarmos no mesmo projeto agrário/mineiro exportador, sem este financiar o desenvolvimento industrial e tecnológico, continuaremos nesta situação periférica", analisa Priscila.

Reindustrialização solidária

O SINTPq defende uma reindustrialização solidária no Brasil. O processo é baseado na economia solidária, uma forma de trabalho alternativa, baseada na propriedade coletiva dos meios de produção. Esse modelo econômico-produtivo funciona como um conjunto de empreendimentos onde os trabalhadores e trabalhadoras produzem e dividem a arrecadação como for necessário, sem a dependência de uma empresa privada.

Na última reunião de diretoria do sindicato, em julho, o professor Dr. Renato Dagnino (Unicamp), pesquisador na área de Política Científica e Tecnológica e maior referência nacional em industrialização solidária, foi convidado a palestrar sobre o tema. De acordo com Dagnino, a reindustrialização é uma pauta fundamental, sobretudo neste momento de eleições, e os trabalhadores não podem ficar alheios a esse debate.

“A classe proprietária resolveu que ganha mais dinheiro no mercado financeiro ou no agronegócio. É quase como se nossa indústria tivesse sido fechada. A classe trabalhadora não pode tolerar isso. Nós precisamos de um Brasil com indústria. Agora, temos que decidir se a reindustrialização será apenas benéfica ao empresariado ou se faremos uma reindustrialização solidária”, pondera Dagnino.