Foi determinada nesta terça-feira (22) a reintegração de 34 trabalhadores do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), localizada em Porto Alegre, a fábrica desenvolve chips e está sendo fechada pelo atual governo, justamente no momento em que o produto está em falta no mundo inteiro. A desembargadora Tânia Reckziegel, entendeu que as demissões foram abusivas por terem sido em massa e sem negociação coletiva com o sindicato e decidiu pela anulação dos desligamentos. 

Em maio deste ano, trabalhadores concursados haviam sido demitidos sem justa causa por conta do fechamento da empresa que foi determinado por Jair Bolsonaro. O Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre (STIMEPA) recorreu ao Ministério Público do Trabalho (MPT), que entrou com a ação pedindo a reintegração e a negociação com o sindicato.

Além desses trabalhadores demitidos, outros 34 seriam dispensados no início do mês de julho. Todos esses profissionais são altamente qualificados em suas áreas de atuação. As demissões fazem parte do processo de extinção da estatal, comandado pelo oficial da Reserva da Marinha, Abílio Eustáquio de Andrade Neto.

A Ceitec possui hoje cerca de 180 funcionários concursados e contratados pelo regime celetista. Os trabalhadores que haviam sido demitidos não receberam verbas rescisórias, indenizações, ficaram sem salários e sequer puderam dar entrada no seguro-desemprego.

O fechamento ocorre no momento em que vários países buscam atender à grande demanda realizando investimentos em fábricas de chips. Enquanto o governo brasileiro fecha a única fábrica desses componentes na América Latina, nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden anunciou a realização de um programa de investimentos no setor que soma US$ 50 bilhões. A União Europeia também está se articulando para aumentar a produção de chips e semicondutores, assim como China e Coreia do Sul.

O presidente do SINTPq, José Paulo Porsani, diz que a Ceitec trazia esperanças para o setor tecnológico nacional. "Apesar de todas as dificuldades que o Brasil possui na área de microeletrônica, a Ceitec era uma luz no fim do túnel para a engenharia brasileira neste segmento. A decisão de encerrar suas atividades é o resultado de um governo negacionista que realiza corte de verbas federais para a C&TI, ataca a educação e conduz o Brasil ao obscurantismo. Esta vitória, apesar de parcial, mostra que temos que resistir", afirma Porsani.

Sobre a Ceitec

A Ceitec é​ uma empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e​ Inovações (MCTI) que atua no segmento de semicondutores desenvolvendo soluções para identificação automática (RFID e smartcards) e para​ aplicações específicas. A empresa projeta, fabrica e comercializa circuitos integrados para diferentes aplicações. Localizada em Porto Alegre (RS), desempenha o papel estratégico no desenvolvimento da indústria de microeletrônica do Brasil.​ A empresa tem atuado principalmente em cinco vetores-chave: identificação patrimonial e logística, segurança e identificação pessoal, identificação veicular, identificação animal, e saúde.

Capital internacional aproveita profissionais descartados pelo governo

Segundo informações divulgadas no portal Canaltech, uma multinacional inglesa iniaciará atividades em Porto Alegre aproveitando os profissionais demitidos pela Ceitec. De acordo com a reportagem, a EnSilica não produz os próprios chips, mas possui experiência e mercado para desenvolver Circuitos Integrados (CIs). A inauguração da filial no Rio Grande do Sul está prevista para outubro. Novamente, o conhecimento dos profissionais brasileiros altamente capacitados ficará restrito a uma multinacional, que obviamente não possui qualquer compromisso com o desenvolvimento da tecnologia e indústria brasileira.

*Com informações de Ceitec e Redação CUT
Fotos: Agência Brasil e Ceitec