Recusa da Sputnik V reacende temor sobre influência política na Anvisa
O posicionamento da Anvisa tem gerado debate, pois o imunizante já está em uso em 62 países, sem que a questão dos adenovírus replicantes fosse questionada.
A decisão da Anvisa de negar as importações da vacina Sputnik V, anunciada na segunda-feira (26), causou amplas discussões durante a semana. Logo no dia seguinte, Kirill Dmitriev, diretor do Fundo Soberano da Federação da Rússia, que financiou o desenvolvimento do imunizante, afirmou que o fundo deixará de juntar esforços para exportar doses ao Brasil. Ao mesmo tempo, governadores do Consórcio Nordeste, que negociavam importações, afirmaram que a decisão foi baseada em questões políticas. Eles já se organizam para questionar juridicamente o veto.
O gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos, Gustavo Mendes, que faz parte do colegiado da Anvisa, afirma que a vacina russa apresenta um risco por conter "adenovírus replicantes". Em suas palavras, isso significa que o vírus utilizado para carregar o material genético do coronavírus para as células humanas - o que estimula a criação de anticorpos, se reproduz - o que não deveria ocorrer.
O posicionamento da Anvisa tem gerado debate, pois o imunizante já está em uso em 62 países, sem que a questão dos adenovírus replicantes fosse questionada. A discussão agora assume um campo mais amplo, pois há o temor entre lideranças políticas e instituições da sociedade civil de que o governo Bolsonaro interfira na Anvisa para dificultar ou mesmo barrar definitivamente a aprovação. Isso porque já é de conhecimento público que os Estados Unidos recomendaram que o Brasil não adquirisse o imunizante.
Não é possível fazer afirmações categóricas sobre os elementos científicos da reprovação da vacina. Eles ainda renderão muitas análises e discussões entre especialistas. Por outro lado, a instrumentalização política da Anvisa é uma preocupação recorrente desde o início do governo Bolsonaro, quando centenas de agrotóxicos passaram a ser liberados, muitos deles proibidos na Europa.
Na visão do presidente do SINTPq, José Paulo Porsani, a raiz da discussão passa pela soberania nacional perante interesses internacionais e de grupos econômicos. Além disso, segundo ele, a independência das agências reguladoras e de seus técnicos é outro ponto que merece atenção neste momento.
"Não cabe ao Brasil acatar recomendações dos Estados Unidos sobre qual imunizante deve ou não ser adquirido. Ao mesmo tempo, não é aceitável que profissionais da Anvisa sejam pressionados por interesses políticos e de grupos econômicos. Eventuais aprovações ou reprovações de medicamentos, vacinas e agrotóxicos devem ser baseadas exclusivamente em critérios científicos. A questão não pode sofrer ideologização. Queremos vacinas seguras para todos. Chega de morte, queremos vida", conclui Porsani.
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