Defendida pelo SINTPq, semana de 4 dias úteis será testada na Inglaterra
A intenção do estudo é descobrir se, com 80% da jornada de trabalho, trabalhadores e empresas conseguem manter 100% da produtividade.
O debate sobre redução de jornada não é novidade no mundo do trabalho, mas essa discussão pode dar um passo importante com um estudo realizado no Reino Unido nos próximos meses. De acordo com informações divulgadas pela Exame no dia 18 de janeiro, durante seis meses, trinta empresas britânicas reduzirão suas jornadas para quatro dias na semana sem redução de salários.
A intenção do estudo é descobrir se, com 80% da jornada de trabalho, trabalhadores e empresas conseguem manter 100% da produtividade. A pesquisa será realizada pelas universidades de Oxford, Cambridge, Boston College e mais duas entidades.
Além da produtividade, o estudo medirá a satisfação e bem-estar dos trabalhadores com a nova jornada. Pesquisas anteriores apontam que a semana com quatro dias úteis impacta positivamente na felicidade dos funcionários e reduz o stress.
A ideia é da 4 Day Week Global Fundation, organização que financia pesquisas sobre redução de jornada de trabalho ao redor do mundo. Projetos parecidos já foram realizados em empresas da Islândia, Nova Zelândia e Espanha.
No episódio 17 do SindCast, o podcast do SINTPq, o doutor em sociologia Jonas Tomazi Bicev, que estudou a redução de jornada em seu doutorado, compara o comportamento das empresas brasileiras e europeias.
“No Brasil, como o custo de demissão é baixo, os empregadores optam por usar o trabalhador ao máximo. Exploram aumento da jornada e rotinas desgastantes e quando cai a produtividade, optam por demitir e contratar outro empregado. Na Europa, como existe uma legislação que dificulta a demissão, eles optam por estratégias para aumentar a produtividade”, afirma o sociólogo.
Desde o início dos anos 2000, a França adota uma jornada de trabalho de 35 horas semanais. Segundo Bicev, a iniciativa diminuiu o desemprego, mas aumentou a procura por trabalhos extras entre os trabalhadores de baixos salários, indo contra a ideia central da iniciativa, de aumentar o tempo de descanso e lazer.
“Nesse caso, é melhor adotar um dia a mais de folga e 30 horas de trabalho distribuídas em quatro dias da semana. Se o trabalhador tem seis horas de trabalho por dia, ele poderia arrumar outro emprego para complementar renda”, avalia o pesquisador.
O presidente do SINTPq, José Paulo Porsani, também é favorável à redução da jornada de trabalho. Porsani defende que os trabalhadores e trabalhadoras sejam beneficiados pelo aumento de sua produtividade. “Com o avanço das tecnologias, não há dúvidas de que produzimos mais em menos tempo. A questão é que o capital sempre se apropria do avanço tecnológico para ampliar o acúmulo financeiro. Está mais que na hora dos trabalhadores desfrutarem desse avanço reduzindo suas jornadas”, afirma.
Confira a íntegra do SindCast #17 e saiba mais sobre o tema.