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Hospital do Câncer em Campinas é fruto da luta dos trabalhadores

28/04/2016

Foram iniciadas neste ano em Campinas as obras de uma unidade do Hospital do Câncer de Barretos. O que muitos não sabem é que a obra não é fruto de iniciativas governamentais, mas da luta dos trabalhadores vítimas das negligências cometidas pela antiga fábrica de agrotóxicos mantida pela Shell e, posteriormente, pela Basf entre 1974 e 2002, na cidade de Paulínia (SP).

Durante 12 anos, os trabalhadores e suas entidades representantes travaram uma disputa judicial contra os diversos crimes ambientais e à saúde dos funcionários cometidos pela Shell e pela Basf e que resultaram na morte de 75 profissionais. Em 2013, a Justiça do Trabalho condenou as empresas a pagarem indenizações e a destinar R$ 200 milhões a projetos relacionados à saúde. Desse montante, R$ 69,9 milhões foram repassados à construção da unidade do Hospital do Câncer de Barretos em Campinas.

Para homenagear as 75 vítimas fatais do caso e reforçar o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes de Trabalho, um ato foi realizado hoje (28) no terreno onde estão sendo iniciadas as obras do hospital.

A manifestação teve início às 9h e contou com representantes do Sindicato dos Químicos Unificados, do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), da Associação dos Trabalhadores Expostos a Substâncias Químicas (Atesp), da Intersindical e do SINTPq.

Além da homenagem aos companheiros que faleceram, os manifestantes exigiram a implantação de adequadas medidas de segurança nos locais de produção e uma legislação mais dura no combate às negligências cometidas contra a saúde dos trabalhadores.

O ato também teve como objetivo mostrar à sociedade que a construção do hospital só foi possível graças a luta dos profissionais e das entidades de classe e que essa obra tem como custo a vida de dezenas de trabalhadores.

“A população não sabe que os recursos para o hospital vieram da luta de 12 anos dos trabalhadores. Esse hospital nasce do sofrimento dos trabalhadores que foram vítimas da negligência das empresas”, declara a fisioterapeuta do Cerest, Pollyanna Regina Pinto.

O desconhecimento da origem dos recursos tem dado brecha para o oportunismo do prefeito Jonas Donizette e de outros políticos da região, de acordo com os manifestantes. A dirigente da Secretaria de Saúde do Sindicato dos Químicos Unificados, Gloria Nozella, ressalta que a população precisa saber que a obra não foi possível graças ao poder público e que essa conquista não pode ser usada para atender interesses políticos. “Durante os 12 anos de luta nenhum político nos ajudou”, recorda Gloria.

O ex-diretor da Atesq, Antonio Rasteiro, esteve presente na mobilização e relembrou as dificuldades causadas pela resistência da Shell e Basf em reconhecer os danos causados aos trabalhadores: “As empresas tentaram impedir nossa luta na justiça, mas como sempre trabalhamos com documentos e fatos reais a justiça viu que estávamos certos”, relata.

O SINTPq apoia os trabalhadores e entidades envolvidos e acredita que essa luta deve servir como exemplo e ponto de partida para uma efetiva melhoria na segurança dos ambientes de trabalho e na punição das empresas que negligenciam a vida dos trabalhadores. Somente com categorias unidas e mobilizadas será possível mudar as relações de trabalho e garantir a qualidade de vida dos profissionais.