Sindicalismo ainda impõe barreiras à participação feminina
Mulheres ganham quase ¼ a menos do que os homens. Essa foi a constatação do relatório Progresso das Mulheres no Mundo 2015-2016, divulgado no ano passado pela Organização das Nações Unidas (ONU). A participação feminina no mercado de trabalho, no entanto, permanece em crescimento. De acordo com o último levantamento do Cadastro Central de Empresas (Cempre), divulgado pelo IBGE também no ano passado, as mulheres ocupavam 41,9% dos postos formais de trabalho em 2009, chegando a 43% em 2013. Segundo dados divulgados pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), hoje as mulheres representam 45% da força de trabalho.
Apesar de tão expressiva presença no mercado de trabalho brasileiro, a participação feminina no movimento sindical, assim como os salários, ainda é menor em relação aos homens. Na visão da coordenadora do Coletivo de Mulheres da CUT Campinas, Elisa Ferreira, um dos motivos da menor presença feminina no sindicalismo é o fato dele refletir a sociedade machista em que vivemos. “Uma das dificuldades que vivenciamos é a sutil desvalorização da nossa fala nas direções. Quando nos pronunciamos, nossa fala é menos ouvida, é vista como menos relevante e elaborada em qualquer ambiente”, relata a sindicalista.
Outra dificuldade para a atuação feminina no sindicalismo é dupla jornada que recai sobre a mulher. Elisa considera que o movimento sindical precisa ter horários e espaços coniventes com a rotina das mães. “É muito difícil conciliar a militância com a jornada familiar. Estou no sindicalismo desde 2007 e quando tive um filho, em 2010, ficou muito mais difícil participar. Por não ter uma estrutura de creches e espaços para crianças em reuniões e congressos, por exemplo, o movimento sindical se torna menos acessível para as mulheres”, avalia.
Para ampliar a participação feminina e combater o machismo na atuação sindical, a CUT determinou em 2013 que a direção de suas executivas nacional e estaduais devam destinar, ao menos, 50% dos cargos para mulheres. Em 2015, a Central realizou seu primeiro congresso paritário e essa determinação fez com que as chapas se mobilizassem para garantir a igualitária participação feminina.
Diretora de Políticas Públicas do SINTPq, Maria Felomena Cássia de Jesus, mais conhecida como Filó, acredita que a paridade estabelecida pela CUT “irá contribuir para maior inserção das mulheres nos espaços sindicais porque estimula o debate na defesa de políticas que atendam às necessidades femininas”.
Considerando que pautas específicas são melhor conduzidas por seus atores, Filó avalia que o avanço nas demandas das mulheres se torna mais difícil em espaços sindicais carentes de presença feminina: “A existência de sindicatos dirigidos majoritariamente por homens pode indiretamente tornar a luta das mulheres por melhorias menos eficientes, uma vez que o debate relacionado às demandas fica prejudicado se considerarmos que quanto mais participação, mais rico é o debate e mais anseios são reportados”.
Para as mulheres negras, a representatividade no movimento sindical é ainda mais desigual, fruto do racismo arraigado na sociedade brasileira. Para a coordenadora do Coletivo de Combate ao Racismo da CUT Campinas e diretora do Sindicato das Domésticas, Maria Regina Teodoro, a atuação das mulheres negras costuma ser limitada para pastas relacionadas apenas a questões raciais. “Não se vê mulheres negras nas presidências ou a frente de pastas com outras temáticas. As direções sindicais pensam que os espaços raciais bastam para nós”, afirma.
A sindicalista avalia ainda que para as mulheres negras é mais difícil ocupar espaços e funções mais elevados dentro do sindicalismo, mesmo que tenham mais capacidade para ocupá-los: “Estou no movimento desde 1995 e em minha trajetória vi muitas mulheres não negras ocupando lugares que não contemplavam a luta enquanto havia mulheres negras mais capacitadas. A igualdade de oportunidades ainda está longe de ser uma realidade”, conclui.
SINTPq
No SINTPq, as mulheres representam quase 50% de um universo com mais de cinco mil trabalhadores em pesquisa, ciência e tecnologia, mas são apenas 31,47% dos sindicalizados. Na direção do sindicato, ocupam apenas duas, das 13 secretarias. Para o sindicato é fundamental mudar essa realidade, pois está muito aquém da representatividade das trabalhadoras em sua base de atuação.
As trabalhadoras que desejarem saber mais sobre a participação no movimento sindical podem entrar em contato com o SINTPq pelo [email protected]
por Ricardo Andrade
Comunicação SINTPq
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