A Hélice Tripla e os Escritórios de Patentes
Joelmo Oliveira
A Revolução Acadêmica nos EUA e a Revolução Industrial Alemã
No final do século XIX, EUA e Alemanha avançavam firmemente rumo à hegemonia econômica do mundo Ocidental.
Os EUA tinham já uma forte indústria petrolífera que floresceu com a demanda por gasolina e diesel estabelecida pela invenção e difusão do motor a combustão interna em meados deste mesmo século.
Já a Alemanha, unificada sob Bismarck, experimentou a sua revolução industrial com o incremento da siderurgia e o surgimento da indústria química.
Embora a Alemanha já fosse um país de longa tradição intelectual e acadêmica, foi nos EUA que a “universidade” deu-se conta da importância estratégica de sua participação no desenvolvimento econômico nacional através de uma maior interação com os diversos setores da sociedade. Esta percepção é hoje conhecida como “Primeira Revolução Acadêmica”.
Enquanto nos EUA a comunidade acadêmica resolveu estreitar seus laços com a sociedade, na Alemanha a tendência parecia ainda apontar para a manutenção da tradicional dicotomia entre universidade e sociedade. Weber em seu texto “Ciência e Política: duas vocações” realizou uma análise descritiva do ambiente intelectual acadêmico na Alemanha, quando lamenta a excessiva burocratização e as dificuldades que encontra para manter diálogos e debates profícuos neste ambiente.
Por outro lado, a Alemanha detinha a vanguarda do processo que hoje denominamos de “Inovação”. A indústria alemã era responsável por sua própria evolução tecnológica em termos de processos e produtos, não foi por outra razão que Joseph Schumpeter, economista alemão, anos depois identificaria o “empresário inovador” como o verdadeiro responsável pela retomada de ciclos virtuosos de atividade econômica.
Interação Universidade-Indústria: o caso Albert Einstein
É neste contexto que, ainda na Alemanha do final do século XIX, surgem os primeiros trabalhos em torno de um conjunto de teorias que dariam origem a chamada física moderna, estas teorias foram responsáveis pelas maiores realizações tecnológicas do século XX.
Um dos mais festejados cientistas de origem alemã responsáveis pelos primeiros alicerces da física moderna é Albert Einstein. Suas biografias são unânimes em confirmar as dificuldades que tinha com a educação formal acadêmica na Alemanha.
Estas biografias também contam que seus grandes trabalhos científicos publicados em 1905 (o "ano miraculoso") foram realizados enquanto Einstein ocupava-se com a análise de pedidos de patentes para invenções num escritório de registro de patentes na Suíça.
Os trabalhos de Albert Einstein são o resultado de algo incomum naquela Alemanha: o contato próximo entre a virtude intelectual desperdiçada pelo burocratismo acadêmico descrito por Weber e o ambiente intrinsecamente motivado para a inovação tecnológica representado pelas indústrias da Alemanha, com a qual Einstein manteve contato durante anos através da análise de propostas de inovação tecnológica para registros de patentes.
A Hélice Tripla
O processo que conduziu Einstein à publicação em 1905 dos trabalhos que tanto impactaram o mundo do século XX pode servir de modelo para a proposição de políticas cujo intuito seja o de estabelecer ambientes permanentemente profícuos para o desenvolvimento científico e tecnológico.
Os parques tecnológicos ou tecnopólos são uma tentativa de emular um ambiente onde a universidade esteja próxima e atenta às demandas de desenvolvimento científico e tecnológico do setor produtivo.
O primeiro parque tecnológico surgiu nos EUA, em 1951, em torno da Universidade de Stanford. Criou-se ali um ambiente que agregou indústrias e laboratórios, com apoio do governo, cujo propósito era o de capitalizar a então recente invenção do transistor em 1948 e as possibilidades econômicas que a partir dali se delineavam: surgia o Vale do Silício, celeiro da eletrônica, microeletrônica, dos computadores, da informática.
O argumento da “Hélice Tripla” serve como referência para modelar um ambiente como o dos parques tecnológicos. As “hélices” são formadas pelo governo, pelo setor produtivo e por universidades, laboratórios e centros de pesquisa. Mais abrangente que o “Triângulo de Sábato”[A2] , o argumento da “Hélice Tripla” propõe, em linhas gerais, que os atores do sistema de inovação não tenham papéis rígidos, propõe que estejam igualmente preparados para assumir a iniciativa de ações que levem à concretização de inovações tecnológicas.
É sob o argumento da “Hélice Tripla” que muitas das políticas nas áreas de Ciência, Tecnologia e Inovação são levadas a cabo.
Nestes ambientes de intensa sinergia entre diferentes atores sociais com o propósito de intensificar a proposição de inovações tecnológicas para o setor produtivo, a força de trabalho desempenha um papel crucial.
No próximo texto discutiremos aspectos relevantes ligados ao Trabalho em Ciência, Tecnologia e Inovação.
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[A1]Foi justamente esse perfil inovador intrínseco
da indústria alemã daqueles anos que motivou o próprio Schumpeter
a estabelecer, mais tarde, linhas oficiais de crédito para o financiamento
de atividades de inovação tecnológica nas indústrias
quando trabalhou para o governo alemão na década de 1920.
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