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Desindustrialização do complexo eletrônico preocupa BNDES

13/07/2010

Em um novo estudo sobre a competitividade do complexo eletrônico, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) reconhece que a desindustrialização, principalmente no segmento de equipamentos para telecomunicações, "vem tomando contornos preocupantes" no país, especialmente por atingir os produtos de maior densidade tecnológica, com grande impacto na balança comercial. O estudo "Complexo Eletrônico: Lei de Informática e competitividade" traz uma análise da indústria eletrônica brasileira, cujo faturamento oscila ao redor dos 3% do PIB, e destaca o crescente déficit comercial do complexo eletrônico -- no período de 2003 a 2009, o saldo foi negativo em US$ 12,051 bilhões.

O relatório observa que, à exceção do segmento de equipamentos para telecomunicações, o complexo eletrônico brasileiro é essencialmente voltado para o mercado interno. Em relação aos componenetes semicondutores - os CIs - constante tema na pauta da indústria, o estudo verifica que nos anos mais recentes tem havido uma diminuição da importância relativa dos componentes no déficit total, apontando para a importação de bens acabados. "No ano de 2009, menos de 45% do déficit comercial proveio da importação de componentes eletrônicos, ao passo que quase um quarto desse déficit estava associado ao segmento de telecomunicações", aponta o documento.

O aumento das importações decorre não só de uma complementação da oferta interna em período de forte aquecimento da demanda, como também pela valorização do real frente ao dólar, que reduz a competitividade da produção interna. "Esses dois fatos são verdadeiros, mas não explicam sozinhos esse fenômeno, que está ancorado na deficiência estrutural do complexo eletrônico brasileiro, de quase ausência da fabricação de componentes eletrônicos", destaca o documento, considerando que a evolução da microeletrônica, com a miniaturização dos circuitos associada à integração crescente de funções em componentes semicondutores, tem provocado mudanças também na fabricação dos bens eletrônicos.

A mudança nesse processo fez com que produtos que antes eram fabricados localmente passassem a ser importados. "Na base dessa desindustrialização está o fato fundamental de que a grande maioria dos bens eletrônicos montados internamente reproduz produtos e processos desenvolvidos no exterior, tendo por alvo o mercado global. Consequentemente, a decisão de fabricar no país, caso não haja qualquer estratégia empresarial de alta escala ou de atendimento a exigências legais ou dos demandantes, é apenas uma conta financeira, já que não há raízes locais", afirma o documento.

Capacitação e propostas Para o desenvolvimento de uma indústria de componentes eletrônicos no Brasil, o estudo do BNDES mostra que o fator mais importante para a implantação de qualquer uma das etapas do negócio – projeto, fabricação (front-end) ou montagem (back-end) – é disponibilidade de recursos humanos especializados em cada uma das etapas, em fluxo contínuo e em nível internacional. Para reverter esse quadro, o BNDES propõe que o apoio à indústria e à tecnologia nacional deve ter como premissa algumas ações, entre as quais destaca que os investimentos baseados no uso de TICs devem ser condicionados ao cumprimento do PPB, "não sendo aceitos investimentos que excluam a parcela de equipamentos". Sugere, ainda, a criação de condições financeiras diferenciadas para as compras de bens de TICs com tecnologia nacional; criação de instrumentos diferenciados para suporte à implantação de projetos em microeletrônica e mostradores (displays) em consonância com as regras do PADIS, incluindo investimentos em start-ups de risco e participação no bloco de controle de empresas; criação de instrumentos que permitam a participação no capital de fabricantes estratégicas de CIs e displays em operações internacionais, visando à efetivação de um roadmap de produtos no Brasil; e manutenção indeterminada de linha de financiamento aos clientes industriais para a aquisição de componentes eletrônicos apoiados pelo PADIS.