Fim das agências? Operações bancárias via internet atingem 57% e indicam revolução no setor
Com alguns segundos de atenção à tela e poucos movimentos com os dedos, o jornalista campineiro Lucas Santana, de 26 anos, realiza todas as operações bancárias que precisa. Fazer saques é o único procedimento que ainda o leva até sua agência, sendo que, na maioria das vezes, realiza essa tarefa em casas lotéricas. “Faço praticamente tudo pelo aplicativo do banco: transferências, pagamento de contas, consultar extrato e até jogar na Mega-Sena”, comenta.
“As agências ficam abertas em horários muito difíceis para quem trabalha em horário comercial”. A reclamação e o cotidiano de Lucas Santana são semelhantes aos de milhões de brasileiros que frequentam cada vez menos suas agências bancárias. O levantamento da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) divulgado este ano reflete essa mudança. As transações bancárias por meios digitais representaram mais da metade (57%) do total de operações financeiras realizadas em 2016. No ano de 2009, esse índice era de 31%.
Considerando apenas as transações via mobile, o montante chega a 34% dos procedimentos realizados em todos os bancos do país no ano passado, o que equivale a 21,9 bilhões de operações. Em 2011, o total foi de 190 milhões. Essa diferença representa um crescimento de quase 11.000% no número de procedimentos com uso de celulares ou tablets.
O crescimento das transações digitais reflete em menores custos e maiores lucros aos bancos. Em 2009, o lucro do setor foi de R$ 54,8 bilhões (em valores de dez/2016). Já em 2016, esse total foi de R$ 60,5 bilhões, o que demonstra aumento real de 10,4% em sete anos.
Tamanho impacto nos lucros está longe de ser ignorado pelo setor. Segundo dados da Febraban, os bancos investiram R$ 18,6 bilhões em tecnologia durante 2016. O valor corresponde a 14% dos gastos em tecnologia no Brasil e se equipara ao montante investido pelo governo federal no mesmo período.
Outro lado
Um dos principais fatores para o expressivo crescimento das transações digitais é a facilidade que oferecem aos clientes. Evitar deslocamentos, filas e não depender do horário de atendimento das agências são benefícios que cativam cada vez mais pessoas. Entretanto, tamanho avanço digital traz consigo uma política que “expulsa” os clientes e reduz postos de trabalho. Isso ocorre por meio da gradual diminuição no número de bancários e também de agências. A afirmação é de Lorival Rodrigues, diretor do Sindicato dos Bancários de Campinas.
“Não somos contra a tecnologia, é algo inevitável. Mas a política adotada pelos bancos reduz cada vez mais o número de bancários e prejudica o atendimento a uma parcela dos clientes que ainda não está habituada com os serviços digitais”, avalia o dirigente.
Exemplo da nova política mencionada por Rodrigues ocorreu neste ano com o fechamento de 100 agências do Banco Itaú, entre janeiro e março. A redução não se limita ao Itaú e tem atingido principalmente os municípios do interior do país. De acordo com dados do Banco Central, nos últimos dois anos, mais de 100 cidades deixaram de ter qualquer dependência bancária, totalizando 352 municípios nessa condição.
Segundo Lorival Rodrigues, o avanço das operações digitais, ao invés de reduzir, tem aumentado a demanda de trabalho dos bancários. Isso ocorre porque esses profissionais passaram a exercer outras atividades de maior complexidade, como atendimento a grandes empresas e investimentos, ao mesmo tempo em que o número de bancários vem sendo reduzido. “Com a lógica adotada pelos bancos, perdem os bancários e também os clientes”.
por Ricardo Andrade
Redação SINTPq
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