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Greve de 2018: Um marco na história da Amazul que beneficia a todos até hoje

Mais do que ganhos financeiros, a vitória na greve de 2018 mostrou que a luta coletiva vale muito a pena

28/04/2022

Assembleia no dia 13 de março define rumos do movimento no primeiro dia de greve, em Iperó-SP

R$ 8.408,40, esse seria o valor mínimo que um trabalhador ou trabalhadora da Amazul com salário base de R$ 5.000,00 deixaria de receber desde janeiro de 2018 até aqui, caso a greve realizada naquele mesmo ano não tivesse ocorrido. Essa conta é um mero indicativo, pois desconsidera o impacto cumulativo dos reajustes seguintes a 2018 e os reflexos em FGTS e INSS, ou seja, os valores reais são muito maiores.

Muitas vezes, acabamos esquecendo como atitudes tomadas no passado impactam nosso presente. Por isso, o SINTPq gostaria de aproveitar este momento tão adverso da economia e das negociações coletivas para relembrar a primeira grande mobilização feita na Amazul: a greve de março de 2018. Considerado impossível, o movimento aconteceu e foi vitorioso!

Em 19 de janeiro de 2018, a direção da Amazul e o Ministério do Planejamento, na época comandado pelo governo de Michel Temer, perderam totalmente o pudor ao propor 0% de reajuste e exclusão de quase todos os benefícios do Acordo Coletivo de Trabalho, sendo eles: Complementação de salário por afastamento, Auxílio Funeral, Auxílio ao filho portador de necessidades especiais, Estabilidade provisória do empregado pai, Estabilidade ao afastado pela previdência, Estabilidade para representantes da comissão de empregados.

Profissionais da Amazul se reúnem na portaria do CTMSP, em São Paulo, durante os três dias greve

Após pronta rejeição da contraproposta pelos trabalhadores e intensas negociações, a empresa cedeu em relação ao corte de benefícios. Entretanto, a proposta de reajuste seguia em 0%, mesmo com diversas manifestações de indignação promovidas pelos trabalhadores e pelo sindicato, que na época produziu e distribuiu adesivos com mensagens exigindo respeito aos profissionais da Amazul. Esses adesivos foram massivamente utilizados pelos funcionários em seus crachás e utensílios, criando um clima de união e mobilização.

Com a intransigência da empresa, os trabalhadores e trabalhadoras não tiveram outra alternativa. Em assembleias nos dias 7 e 8 de março, realizadas em São Paulo e Iperó, os empregados deliberaram por greve a partir de 13 de março. No primeiro dia de greve, mais de 350 empregados se reuniram na portaria do CTMSP (Centro Tecnológico da Marinha) e nas escadarias da sede administrativa da Amazul, em São Paulo, e também na rotatória em frente ao CEA (Centro Experimental Aramar), na cidade de Iperó.  O SINTPq organizou a greve e providenciou faixas, carros de som e a devida estrutura para viabilizar a manifestação dos trabalhadores, que permaneceram concentrados em assembleia permanente durante todo o dia.

Nos dois dias seguintes, o movimento seguiu forte e o clima de solidariedade entre os profissionais da Amazul se intensificou. Apitaços e passeatas foram realizadas, os mais variados e criativos cartazes foram confeccionados pelos participantes, e a cada início e término de expediente os grevistas entoavam suas palavras de ordem convidando os demais colegas a fortalecer a mobilização. Cada café da manhã, almoço e lanche da tarde era compartilhado pelos presentes, que aproveitaram o momento de comunhão para se conhecer melhor, percebendo que, por mais distintos que fossem os setores dentro da empresa, todos carregavam os mesmos anseios por uma Amazul melhor e por condições dignas de trabalho.

Passeata nos arredores do CEA, em Iperó-SP, mobiliza trabalhadores e trabalhadoras da Amazul durante a greve

Em 15 de março, terceiro dia de greve, o SINTPq, seu departamento jurídico e o advogado da Amazul foram recebidos pelo desembargador Rafael Edson Pugliese Ribeiro, do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo. Nesse encontro, foi possível marcar uma Audiência de Conciliação para a mesma data. Após essa confirmação, os profissionais paralisados realizaram nova assembleia e deliberaram pela suspensão da greve. 

Posteriormente, a conciliação não avançou e o processo de Dissídio Coletivo seguiu na justiça. Os embates judiciais seguintes levaram mais de um ano, mas sindicato e trabalhadores conseguiram importantes vitórias no TRT (Tribunal Regional do Trabalho) e no TST (Tribunal Superior do Trabalho). Com isso, a Amazul foi obrigada a pagar o IPCA da época, equivalente a 2,94%, de forma retroativa a janeiro de 2018. Mais do que ganhos financeiros, a vitória na greve de 2018 representou um marco na Amazul e mostrou que a luta coletiva vale a pena. Que esse movimento seja sempre um exemplo para todos aqueles que não acreditam na força da classe trabalhadora.