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Itau persegue trabalhadores em Home office

O problema surge quando a avaliação se reduz a métricas frias

10/09/2025

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O Itaú Unibanco demitiu, nesta segunda-feira (8), cerca de mil trabalhadores em regime remoto, alegando “baixa aderência ao modelo home office”. A decisão, tomada sem diálogo prévio com o sindicato e sem advertências, reacendeu debates sobre monitoramento, produtividade e direitos trabalhistas.

Nos últimos anos, softwares de gestão passaram a medir produtividade em tempo real, acompanhar acessos e registrar atividades no computador. Embora apresentados como ferramentas de gestão, esses mecanismos geram preocupações sobre privacidade, saúde mental e respeito à legislação trabalhista. O problema surge quando a avaliação se reduz a métricas frias, sem levar em conta a qualidade das entregas ou o contexto de cada trabalhador.

Quando a gestão foca no monitoramento minucioso de cada ação – cliques, tempo de tela e movimentações em sistemas – o objetivo deixa de ser a entrega de resultados e passa a ser a vigilância constante. Esse modelo, conhecido como microgestão, não oferece clareza sobre prioridades e metas, incentivando o trabalhador a “mostrar atividade” em vez de produzir valor, o que pode gerar frustração e sensação de desvalorização. Estudos da Associação Americana de Optometria (AOA) apontam que longos períodos diante do computador, sem pausas, podem causar fadiga ocular, dores musculares, estresse e até burnout. Além disso, a percepção constante de monitoramento contribui para ansiedade e desgaste emocional, prejudicando o equilíbrio entre vida profissional e pessoal.

Apesar dessas preocupações, pesquisas recentes mostram que o home office, quando bem estruturado, pode trazer benefícios significativos. Um levantamento de novembro de 2024, realizado pela FIA Business School e pela FEA-USP, indicou que 94% dos trabalhadores afirmam ter melhorado a vida com o trabalho remoto ou híbrido, 88% consideram a qualidade do trabalho igual ou superior ao presencial, e 91% apontam produtividade equivalente ou maior. Os dados sugerem que, com autonomia e organização, o home office permite conciliar melhor trabalho, família e cuidados com a saúde, contrariando a ideia de que estar fora do escritório reduz a produtividade.

 

 
 
 
 
 
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O presidente do SINTPq, José Paulo Porsani, criticou as demissões. Ele classificou a decisão do banco como “inaceitável do ponto de vista social e da justificativa apresentada”. Porsani afirma que trabalhadores em home office devem ser avaliados pela entrega, pontualidade e qualidade do trabalho. “É impossível que um contingente tão grande de funcionários não apresente resultados mínimos. Além disso, as demissões parecem premeditadas, já que a empresa poderia corrigir problemas apontados muito antes”, explica.

O dirigente também condenou a ausência de diálogo com o sindicato. “A falta de negociação evidencia práticas discriminatórias e anti-sindicais, desrespeitando a instituição que representa os trabalhadores. Isso aumenta a tensão nas relações e pode gerar movimentos de resistência, inclusive paralisações”, destaca.

Sobre o uso de softwares e inteligência artificial para monitorar produtividade, Porsani alerta que a tecnologia não deve servir para punir ou pressionar. “Ela aumentou a produtividade sem reduzir jornadas nem gerar aumento salarial. O setor empresarial busca lucratividade máxima, reduzindo contingentes de funcionários e sobrecarregando os que permanecem, com claros riscos de adoecimento e esgotamento físico e emocional”, afirma.

Além disso, a negociação sobre a regulamentação do home office e a adaptação das normas trabalhistas para o trabalho remoto continua negligenciada pelas empresas, que têm reduzido vagas nesse modelo e priorizado o retorno ao trabalho presencial. O episódio evidencia um embate entre o avanço tecnológico, a postura das grandes corporações e a necessidade de preservar direitos e qualidade de vida dos trabalhadores.