Notícias | "O que está em jogo é um direito social fundamental", diz presidente dos Metroviários sobre privatizações em SP

"O que está em jogo é um direito social fundamental", diz presidente dos Metroviários sobre privatizações em SP

Em entrevista ao SINTPq, Camila Lisboa comenta as consequências da privatização e os próximos passos da mobilização popular

25/10/2023

No dia 3 de outubro, uma greve impactou o transporte público e serviços essenciais em São Paulo, envolvendo funcionários do metrô, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e da Sabesp. A decisão de greve foi tomada após aprovação em três assembleias pelos trabalhadores, que votaram a favor de uma paralisação em oposição aos projetos de privatização liderados pelo governo estadual de Tarcísio de Freitas. 

O SINTPq conduziu uma entrevista com a presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Camila Lisboa, buscando trazer informações sobre o movimento, as consequências de uma eventual privatização e os possíveis desdobramentos desse embate entre trabalhadores e governo estadual. Na entrevista, Camila Lisboa enfatizou o papel fundamental desempenhado pela greve na exposição clara dos planos de privatização do governador Tarcísio. Segundo ela, essa ação obrigou o governo a tornar públicos seus projetos, aumentando a transparência no processo. 

Camila destaca ainda que a paralisação trouxe à tona os problemas que afetam as linhas 8 e 9, caracterizadas por falhas, atrasos e inconvenientes para os passageiros. A greve também desencadeou discussões públicas e abriu a possibilidade de uma consulta popular por meio de um plebiscito, permitindo que a opinião da população seja considerada no assunto. Confira mais detalhes na entrevista.

Como você enxerga o futuro do sistema de metrô de São Paulo caso a privatização seja efetivada? Quais são as preocupações em relação à qualidade do serviço, tarifas e condições de trabalho?

A privatização do serviço metroferroviário tende a piorar o serviço e aumentar a tarifa. E a gente não tá falando isso de achismo, estamos falando através das experiências concretas que aconteceram aqui em São Paulo e pelo país. Aqui em São Paulo, o exemplo são as linhas 8 e 9, onde o serviço piorou demais. Eram as linhas mais bem avaliadas da antiga CPTM, e agora têm uma condição péssima de oferta do serviço. 

Se olharmos para o estado aqui do lado temos outro exemplo. O Rio de Janeiro tem o serviço de metrô, trem e água privatizados, e são as tarifas mais caras do Brasil. No caso de trem, é R$ 7,40, metrô R$ 6,90, as contas de água chegaram a aumentar até 300%. Então, essa é a realidade que se desenha com a possibilidade de uma empresa privada gerir o sistema metroferroviário. Por isso que nós estamos na luta contra esse projeto.

Quais são as estratégias que o sindicato planeja adotar para continuar a luta contra a privatização no futuro?

O Sindicato dos Metroviários está trabalhando para seguir com a articulação e com a unidade que nos permitiu realizar o plebiscito popular e realizar a greve unificada. Então, a gente está seguindo com o plebiscito popular, que vai até o dia 5 de novembro. 

Como você, como diretora sindical, vê a participação da sociedade e dos usuários do metrô na defesa do sistema público de transporte? Quais ações ou medidas os cidadãos podem tomar para apoiar a causa?

Eu acho que a sociedade se manifesta em defesa do transporte público, contra as privatizações, como se manifestou no dia de greve unificada, como tem se manifestado através do plebiscito popular. Também vemos uma forte participação nas audiências públicas que a gente tem realizado ao longo do ano. É uma forma importante de participar e de mostrar que essa luta não é uma luta só dos trabalhadores desses serviços, mas também dos usuários desses serviços.

A justiça tem imposto grandes limitações às greves dos metroviários, além de multas pesadas. Como você avalia a atuação do judiciário nesse sentido?

Eu acho que o que está colocado nessas decisões judiciais que limitam a atuação e direito de greve dos trabalhadores é justamente a validade ou não do direito de greve. O direito de greve é um direito constitucional, está presente no artigo 9 da Constituição e essas decisões têm atentado contra esse direito democrático presente na Constituição do nosso país e nós vamos lutar por esse nosso direito sempre.

A grande mídia costuma fazer coberturas sempre voltadas aos interesses privatistas. Como vocês têm atuado para combater essa narrativa imposta pelos grandes veículos de comunicação?

Realmente, a grande mídia tem uma agenda privatista muito forte, o que fez com que eles, por exemplo, no dia 3, tivessem praticamente fechado o espaço para a representação dos trabalhadores. Foi muito pouca a inserção que a gente conseguiu ter nesses grandes veículos, mas a gente pôde contar com as mídias alternativas, com a imprensa sindical, para poder repercutir esse tema, para poder repercutir a greve e a discussão de conteúdo que a greve estava fazendo, e também a atuação nas próprias redes sociais.

Apesar de todas as dificuldades, a hashtag da greve, #nãoprivatizaSP, ficou entre os primeiros lugares no Twitter. E a expressão do apoio das pessoas sobre a nossa luta não se deu só através do Twitter. A gente percebe depois da greve nas atividades do plebiscito, muita gente veio falar com a gente, muita gente veio se manifestar, muita gente entrou em contato com o sindicato. Então, assim, apesar da mídia ter essa força toda e esse compromisso todo com a agenda privatista, eu não acho que ela consegue determinar tudo. Eu acho que a experiência das pessoas também é considerada para elas terem seus posicionamentos e manifestarem seus apoios.

Qual é a mensagem que o Sindicato dos Metroviários deseja transmitir à população em relação à privatização do metrô e ao futuro do serviço?

A mensagem que queremos deixar é que o que está em jogo com projetos de privatização não é só a vida dos trabalhadores, ou das empresas que estão ameaçadas de privatização. É sobretudo um direito social fundamental do nosso país, que é o direito ao transporte público, que na medida em que está submetido os interesses mercadológicos, a ideia de lucro, na medida que isso acontece, realmente a tendência é que os usuários do transporte público sejam extremamente prejudicados, tanto do ponto de vista de ter um serviço de qualidade, quanto do ponto de vista de ter acesso ao serviço, pois o preço da tarifa ainda é uma barreira muito grande para as pessoas poderem se locomover por essa grande cidade.

 

por Suelen Biason
Comunicação SINTPq