SINTPq promove palestra voltada à saúde mental do trabalhador
Especialistas reforçam a importância da articulação de ferramentas individuais e coletivas de cuidado aos trabalhadores
O SINTPq promoveu uma palestra na quarta-feira, dia 26, que teve como objetivo conscientizar sobre a importância da saúde mental dos trabalhadores no ambiente corporativo. A atividade foi voltada para a diretoria do sindicato e teve como responsáveis as pesquisadoras Dra. Márcia Bandini, médica especialista em medicina do trabalho e professora de Saúde Coletiva da Unicamp, e Marília Cintra, cientista social e pesquisadora na área de ciências médicas da Unicamp. Durante a palestra, foram compartilhados dados e estratégias para possibilitar um ambiente mais saudável no local de trabalho.
Segundo as pesquisadoras, as condições de trabalho e o ambiente corporativo podem aumentar o risco de problemas de saúde mental, como estresse, ansiedade e depressão. Na visão de Márcia Bandini, com as condições atuais, o ambiente de trabalho tem se tornado cada vez mais prejudicial para a saúde mental por seu perfil altamente competitivo e desgastante: "Este modelo em que vivemos tem trazido uma proposta de trabalho na qual não são respeitados limites. A pessoa não tem limites no seu tempo de trabalho, não tem limites nas suas entregas e sofre com as famosas metas inalcansáveis".
"Nós sabemos que vivemos em um país capitalista, neoliberal, onde as formas de trabalho têm sido cada vez mais adoecedoras, para não dizer violentas. O trabalho não é de todo ruim, ele nos realiza, nos identifica e nos socializa, ele traz para o individuo um significado. É inegável que o trabalho nos realiza, e nessa realização alcançamos a satisfação com a nossa existência em níveis muito profundos. Entretanto, se isso é verdadeiro por um lado, olhando da perspectiva do trabalho como um promotor de saúde, ele também pode ser fruto de um profundo sofrimento", analisa Márcia.
Marília Cintra destaca que o cuidado com a saúde mental envolve ações nas esferas individual e coletiva. Segundo ela, empresas, por exemplo, podem tomar medidas para prevenir esses problemas articulando redes de apoio nas quais o indivíduo conta com o suporte da coletividade. "Se a pessoa tem apoio social, do coletivo de trabalhadores, da comunidade, da família, ou de outro lugar, costuma ser um pouco mais fácil lidar com o próprio sofrimento", conclui.
Despatologização do suicídio
Dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS) trazidos por Márcia e Marilia mostram que, nos últimos 20 anos, o número de casos de suicídio no Brasil dobrou, passando de 7 mil em 2000 para 14 mil em 2020. Márcia Bandini pontua que esse é um tema muitas vezes cercado de estigmas, o que pode levar à falta de conscientização.
Segundo a pesquisadora, o ato de tirar a própria vida não está ligado, necessariamente, a transtornos mentais. Dessa forma, todos estão sujeitos a passar por quadros de sofrimento profundo, sendo necessário discutir o tema como um problema amplo de saúde pública. "É de grande importância a despatologização do suicídio. Ainda que seja uma situação extrema, o suicídio não pode ser compreendido como um sintoma ou uma manifestação de uma doença mental. Essa ideia precisa ser o ponto inicial de uma desconstrução", afirma.
Rede Margarida
Márcia Bandini e Marília Cintra integram a Rede Margarida, coletivo fundado recentemente, em março de 2023. A rede é composta por pesquisadores/as, cientistas, sindicalistas, ativistas, juristas, médicos/as e outros trabalhadores/as que visam compartilhar saberes e experiências sobre a questão da saúde mental no trabalho. A iniciativa recebeu o apoio do SINTPq, que agora faz parte da rede, juntamente com diversas outras entidades, como a CUT (Central Única dos Trabalhadores), FUP (Federação Única dos Petroleiros e CEREST (Centro de Referência Regional em Saúde Trabalhador).
por Suelen Biason - Comunicação SINTPq
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