Brasileiros propõem criar um 'Comitê Gestor' exclusivo para neutralidade da rede
Neutralidade de rede esteve entre os assuntos mais discutidos do ITS Rio 2014,, realizado nesta semana, no Rio de Janeiro, com a organizaçãoda Internet Technology Society (ITS) e da TIM Brasil. A falta de consenso sobre o tema ficou evidenciada já na palestra de abertura do evento, “The Evolving Architecture of the Internet”, realizada no dia 1º de dezembro e ministrada pelos professores Christopher Yoo, da Universidade da Pennsylvania (EUA) e Joao Schwarz, da Universidade de Luxemburgo.
Mais cético com relação à neutralidade, Christopher Yoo fez uma abordagem alternativa, batizada como "diversidade de rede”. A tese do especialista é focada na relação econômica. Para Yoo, é preciso mirar soluções de topologia de rede para a redução de custos e gestão de tráfego. Por sua vez, o português Joao Schwarz tem uma preocupação com o nível de confiabilidade da rede, em um universo em que há cada vez mais conteúdo, trocado de forma mais rápida; a privacidade dos internautas está cada vez menor e designar responsabilidades fica cada vez mais difícil em um mundo globalizado sem regulamentações globais.
E no Brasil, o tema também mobiliza a área acadêmica. Pesquisadores da Unicamp e do CPqD apresentaram no ITS Rio 2014 uma proposta de co-regulação envolvendo a questão da neutralidade., que promete, se for adiante, acirrar o debate na área. A ideia central passa pela criação de uma espécie de Comitê Gestor da Internet -com representantes de toda a sociedade, mas voltado apenas para discutir Neutralidade de Rede.
Marcio Wohlers, Moacir Giansante, Antônio Carlos Bordeaux-Rego e Nathalia Foditsch apresentaram o trabalho acadêmico, com cunho pragmático, “Shedding light on net neutrality: The Brazilian case”. Bordeaux-Rego explicou que a neutralidade de rede tem diversos aspectos, tecnológico, negócios e legal, além da questão da privacidade.
“Tudo isso misturado já dá um bom coquetel. Todas as discussões em torno do tema mostram que não existe uma fórmula para estipular que a internet tem que caber em um modelo. Por outro lado não se pode deixar um espaço tão livre para que o mercado faça o quer”, ponderou Bordeaux-Rego. A proposta do professor Wohlers, que é a tônica do trabalho, é um modelo de co-regulação para favorecer o debate entre os diversos stakeholders. “Porque os casos não são iguais, e a co-regulação traz vários elementos para essa discussão”, disse.
O economista Marcio Wohlers, que é professor do Instituto de Economia da Unicamp, se inspirou nos trabalhos de Cristopher Marsden, que mostra a neutralidade como algo em construção, não apenas de caráter econômico. Segundo Marsden, a neutralidade é um conceito muito mais amplo, mas se encaixa bem no modelo de co-regulação em que todos os envolvidos (governos, sociedade, entidades privadas, terceiro setor) devem se unir e chegar a um consenso.
“Seria um corpo debaixo da Casa Civil, por exemplo, que andaria lado a lado com a Anatel ou com o CGI, por exemplo. Na Austrália, isso está em prática há cerca de 3 anos, eles montaram um código de conduta para as operadoras, um acordo formal que elas assinaram”, contou Wohlers.
De acordo com o economista, a co-regulação é totalmente possível de ser adaptada à regulação da lei do marco Civil. Wohlers ressalta que um dos conceitos de Marsden é olhar as práticas dos provedores e ver em que medida elas saíram da normalidade. “A ideia de um órgão de co-regulação seria fazer uma adaptação com a lei”, completou o professor, que vê na co-regulação uma possível solução para as exceções expostas na lei. "A proposta ainda não foi discutida com a Anatel nem com autoridades públicas. "Esse é um trabalho acadêmico e pragmático", sinalizou Wholers.
FONTE: UOL
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