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O Triângulo de Sábato

03/02/2010

Por Joelmo Oliveira *


CEPAL e Política Industrial

As idéias do argentino Raul Prebisch e do brasileiro Celso Furtado durante os anos de 1950/60 forneceram o arcabouço teórico para a implementação dos programas de substituição de importações nos países da América Latina. Para eles a situação de "subdesenvolvimento" desses países seria creditada a uma estrutura econômica exportadora de produtos primários, de baixo valor agregado e sujeito às imprevisibilidades do mercado internacional e, ao mesmo tempo, importadora de produtos industrializados. 

A política econômica adotada no Brasil desde Getúlio Vargas, na década de 1930, já buscava a industrialização do país tendo a substituição de importações como pano de fundo. Na década de 1950 Juscelino Kubitschek impõe novo fôlego à substituição de importações, adotando uma política que facilitava o crédito aos setores industriais e promovia crescentes déficits públicos. O Estado brasileiro investia intensamente na garantia da infra-estrutura para a nova onda de industrialização, mais tarde a inflação cobraria seu preço.

O desenvolvimentismo latino-americano esbarrou na difícil conjuntura econômica internacional do final da década de 1960. Os militares brasileiros mantiveram o país em "marcha forçada", veio o "Milagre Brasileiro" de 1968 até 1972, esbarrando também na nova conjuntura econômica internacional delineada pelo rompimento do acordo de Bretton Woods, em 1971, por parte dos EUA (acordo este que exigia desse país o lastreamento em ouro para a realização de emissões de dólar) e pelo aumento do preço do petróleo em 1973.


O TRIÂNGULO DE SÁBATO

A crise do desenvolvimentismo latino-americano na segunda metade da década de 1960 incitava novas abordagens teóricas para a questão do desenvolvimento da região. O que havia de errado nas idéias dos cepalinos Prebisch e Furtado? Acaso não estava correta a idéia de manter juros baixos e sustentar déficits públicos com o propósito de
dinamizar a economia dos países da região? Por que não funcionou? Por que a crise econômica nos EUA e Europa arrastaram também as economias latino-americanas recém-industrializadas para a vala comum da crise? Por que essas economias não tiveram força para reagir por conta própria?

Em 1968, numa conferência na Itália (World Order Models Conference), os argentinos Jorge Sábato e Natalio Botana tentaram responder as questões formuladas acima. Para eles, um programa de substituição de importações eficiente deveria levar em conta a necessidade constante do setor produtivo em aprimorar seus processos e seus produtos, para isso seria necessário que houvesse nos países da América Latina uma infra-estrutura científica e tecnológica articulada com o setor produtivo e com o governo. O modelo descrito passou a ser conhecido como "Triângulo de Sábato". Neste "Triângulo" o vértice superior seria ocupado pelo governo, ligado por um lado ao setor produtivo e por outro à infra-estrutura científica e tecnológica. Mas a base do "Triângulo" seria a interação entre o setor produtivo e a infra-estrutura científica e tecnológica disponível no país.  

Dessa forma, Sábato e Botana completaram a idéia de substituição de importações de Prebisch e Furtado, adicionando o desenvolvimento tecnológico como fator fundamental para a sustentabilidade nacional do desenvolvimento econômico. 
Algumas críticas ao esquema de Sábato e Botana incluem a rigidez preconizada para as interações entre os três setores descritos no modelo. Uma generalização do "Triângulo de Sábato" foi proposta em 1996 por Loet Leydesdorff e Henry Etzkowitz, e é conhecida como modelo da Hélice Tripla.


* Físico do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron do Ministério da Ciência e Tecnologia e Diretor de Política de Ciência e Tecnologia do SINTPQ.