Greve na Amazul entra no 2º dia e trabalhadores lançam manifesto
Os funcionários da Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. (Amazul), empresa responsável pelo desenvolvimento tecnológico do submarino nuclear brasileiro, iniciaram hoje seu segundo dia de greve. Na capital paulista, são 70 trabalhadores e trabalhadoras mobilizados na portaria da sede administrativa da empresa.
Em Iperó-SP, os empregados seguem concentrados na portaria do Centro Experimental Aramar (CEA). Durante assembleia nesta manhã, os 200 profissionais presentes deliberaram pela continuidade da greve e aprovaram um manifesto relatando o tratamento recebido pelo Governo Federal.
No documento, os funcionários mencionam o risco radioativo ao qual se submetem diariamente e questionam as condições oferecidas em contrapartida: “Muitos trabalhadores e trabalhadoras deixam suas famílias para colocarem-se em risco eminente de contato com material radioativo, manusear produtos e equipamentos de alta periculosidade e gerir um projeto de tamanha complexidade. Logo, sendo mão de obra cada vez mais específica e qualificada, para que projeto nuclear brasileiro tenha efetividade é, no mínimo, razoável que esses trabalhadores e trabalhadoras sejam valorizados. ”
A greve foi deliberada em resposta à proposta de 0% de reajuste nos salários e benefícios apresentada pelo Ministério e pelo Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (DEST). Além de não fornecer qualquer correção salarial, a proposta não garante para o próximo ano a continuidade dos benefícios existentes hoje.
Ao longo dos últimos três anos, os empregados da Amazul receberam reajustes abaixo da inflação, resultando em perda salarial de 11,2%. O movimento seguirá até que o Governo Federal melhore as condições oferecidas para o Acordo Coletivo de Trabalho 2018.
O Sindicato dos Trabalhadores em Pesquisa, Ciência e Tecnologia (SINTPq) e os funcionários em greve estão respeitando o efetivo mínimo de profissionais atuando em cada área essencial da empresa, conforme determinação judicial.
Confira a íntegra do manifesto.
O dia 13 de março de 2018 foi um dia de marco histórico na página da empresa Amazul. Cabe aqui fazer um breve histórico do porquê a Amazul foi criada.
Após a defasagem vergonhosa de salário que os trabalhadores da antiga Engeprom recebiam, o Governo Federal resolveu criar a Amazul e reenquadrar os antigos trabalhadores da Engeprom com salários mais dignos, tendo como um dos seus lemas a afirmação de que seu maior patrimônio são as pessoas, com promessas de que não mais seriam desvalorizadas como eram.
No entanto, a realidade se mostrou diferente. Hoje, após quatro anos da criação da Amazul, as perdas salariais já somam mais de 11% e somando-se a atual proposta da empresa, essa defasagem aumentará ainda mais.
É fato que todos que estão se manifestando em greve, direito legítimo garantido pela constituição, estão fazendo não por questões próprias, mas sim em virtude da empresa e do governo federal que insistem em desvalorizar os trabalhadores com mais uma proposta vergonhosa de retrocesso salarial.
Devemos lembrar que o Projeto Nuclear da Marinha (PNM), Projeto do Submarino de Propulsão Nuclear (Prosub) e Projeto Nuclear Brasileiro (PNB) têm impacto direto na política internacional brasileira, já que somente 12 países detém o ciclo completo do enriquecimento do urânio e o Brasil faz parte desse seleto grupo e tal posição passa por esses trabalhadores.
Os bilhões que já foram investidos no projeto tampouco representam a fatia que chega até a mão desses trabalhadores e trabalhadoras. É relevante aqui ressaltar que o projeto acontece simultaneamente em dois estados, São Paulo e Rio de Janeiro, e três cidades, São Paulo Capital, Iperó-SP e Itaguaí-RJ.
Muitos trabalhadores e trabalhadoras deixam suas famílias para colocarem-se em risco eminente em contato com material radioativo, manusear produtos e equipamentos de alta periculosidade e gerir um projeto de tamanha complexidade. Logo, sendo mão de obra cada vez mais específica e qualificada, para que projeto nuclear brasileiro tenha efetividade é, no mínimo, razoável que esses trabalhadores e trabalhadoras sejam valorizados.
Os trabalhadores da Amazul merecem respeito e não mais se calarão frente aos retrocessos que esse governo e a empresa insistem em oferecer.
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